Título: EQUIPE ECONÔMICA TEME CONTÁGIO
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 20/08/2005, Economia, p. 27

Operadores do BC receberam ordens para apenas monitorar mercado

BRASÍLIA. Boa parte da equipe econômica recebeu atônita a denúncia do advogado Rogério Buratti contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Como Palocci é o fiador político de medidas de austeridade - como alta dos juros e cortes no Orçamento da União - técnicos da área econômica passaram a temer a contaminação da economia, que até agora estava isolada da crise. A preocupação, ainda velada, é que a turbulência no mercado não seja passageira, apesar dos fundamentos sólidos.

A mesa de operações do Banco Central (BC) estava receosa desde quinta-feira, quando o dólar subiu sem explicações. Os operadores averiguaram se havia boatos de novas denúncias a serem divulgadas no fim de semana e souberam que o alvo era Palocci.

Só que ninguém esperava que a denúncia atingisse "a cabeça do governo", nas palavras de um interlocutor da equipe econômica, e instalou-se a apreensão. Oficialmente ninguém se pronunciou e tentou-se passar a impressão de que os trabalhos corriam normalmente, tanto na Fazenda como no BC.

Mas o monitoramento do mercado foi intenso. De São Paulo, os diretores de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, e de Assuntos Internacionais, Alex Schwartsman, telefonaram para o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua. A mesa de operações do BC recebeu ordens para apenas acompanhar o mercado, sem intervir para não alimentar a instabilidade. Técnicos da Fazenda tentavam mostrar tranqüilidade, mas admitiam o potencial da denúncia:

- Estamos trabalhando com um olho no gato e outro no peixe - disse um técnico.

Paulo Bernardo: 'Não aconteceu nada'

A avaliação é que, para se ter a noção exata de se e como a confiança no país será abalada, é preciso deixar a poeira baixar e saber se as denúncias têm fundamento. A Fazenda considerou a turbulência do mercado ao longo do dia natural, pois não há como segurar o impacto de denúncias como a de Buratti.

Do primeiro time da Fazenda, apenas Murilo Portugal, secretário-executivo, estava em Brasília ontem. Palocci e o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, estavam no Rio, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, no Chile. Meirelles passará o fim de semana nos Estados Unidos e tem uma série de encontros marcados com investidores em Nova York na próxima semana. Perguntado sobre o reflexo das denúncias na economia, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, respondeu irritado:

- Não aconteceu nada.