Título: BLINDAGEM ARRANHADA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 20/08/2005, Economia, p. 27

Denúncia contra Palocci faz dólar subir 2,94% e Bolsa cair 0,95%. Risco sobe 3,45%

A acusação feita pelo advogado Rogério Buratti de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, teria recebido propina durante sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto sacudiu ontem o mercado financeiro como não se via desde a crise eleitoral de 2002. O dólar chegou a subir mais de 4% de manhã e a Bolsa de Valores de São Paulo recuou 2,86% no pior momento. No fim do dia, investidores aproveitaram para embolsar lucros vendendo moeda e a cotação cedeu um pouco: o dólar fechou em alta de 2,94%, a R$2,450. Ainda assim, é a maior variação desde 31 de maio de 2004 (3,24%). Já a Bolsa encerrou em queda de 0,95%. O risco-Brasil subiu 3,45%, para 419 pontos centesimais, próximo à máxima do dia (421 pontos).

Os negócios já começaram tensos, devido à expectativa sobre o depoimento de Buratti, que havia feito um acordo para revelar irregularidades em troca de uma redução de pena. Por volta das 11h, quando a denúncia veio a público, o dólar estava praticamente estável, mas em 15 minutos já avançava 4%. Já a Bolsa, que subia 0,78% antes da denúncia, passou a cair 2,78% em apenas 16 minutos.

- A atual crise política é uma metralhadora giratória que agora atingiu a figura central para manutenção da confiança dos investidores no governo Lula. A base de sustentação da economia brasileira ainda é boa, mas o que se desenha é uma crise extremamente grave, das que acontecem a cada 20 anos - afirmou Paulo Leme, vice-presidente para mercados emergentes do banco de investimentos Goldman Sachs.

Projeções de juros também têm forte alta

Segundo ele, como o Brasil ainda é um país muito rentável para os estrangeiros, são os investidores locais que batem em retirada.

- Resta saber o que vai pesar mais com o desdobramento da crise: a força da balança comercial e a liquidez internacional ou a deterioração do cenário político - disse Leme.

O forte nervosismo dos investidores atingiu também os mercados de juros futuros. Nos contratos mais negociados, com vencimento em janeiro de 2007, as taxas saltaram dos 17,95% na véspera para 18,50% ao ano ontem. O volume de negócios para esse vencimento dobrou: saiu dos 150 mil contratos dos últimos dias para pouco mais de 300 mil ontem.

Apesar das novas denúncias e das fortes perdas no mercado, Rafael Guedes, diretor da agência de classificação de risco Fitch, descartou a possibilidade de a crise resultar numa mudança na política econômica:

- A economia brasileira é muito sólida e o país tem ampla capacidade de honrar seus pagamentos. Como qualquer economia emergente, o Brasil atravessa períodos de turbulência política, como ocorreu na gestão FHC e agora no governo Lula. Nossa visão vai além da crise atual e é bem mais positiva.

inclui quadro: o comportamento do mercado ontem