Título: PETROBRAS AUMENTA OS PREÇOS DO GÁS NATURAL
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 20/08/2005, Economia, p. 29

Reajustes serão em setembro e novembro. Repasse para tarifas ao consumidor ainda depende de distribuidoras

A Petrobras anunciou ontem que vai aumentar os preços do gás natural para as distribuidoras. O aumento será dado em duas parcelas - a primeira, a partir de 1º de setembro e a segunda, de 1º de novembro - e vale tanto para o produto importado da Bolívia quanto para o produzido no Brasil. O impacto nos preços finais para os consumidores, como indústrias, residências e veículos, não será imediato. Vai depender dos valores que as distribuidoras serão autorizadas a fixar para cada tipo de consumidor em seus estados.

O gás natural importado da Bolívia vai aumentar 13% em setembro e 10% em novembro. Já o gás produzido no país terá um reajuste de 6,5% em setembro e outros 5%, dois meses depois.

A Petrobras, em nota, alega que foi necessário aumentar os preços devido ao longo período, 32 meses, em que ficaram sem reajuste. Ao mesmo tempo, ocorreram elevações nos custos de produção e de importação da estatal. Do consumo total de gás natural, que hoje é de 40 milhões de metros cúbicos por dia, cerca de 60% - ou seja, 24 milhões de metros cúbicos - vêm da Bolívia, que recentemente aumentou a cobrança de impostos sobre petróleo e gás de 16% para cerca de 50% do valor da produção.

Reajuste teria como objetivo conter expansão do consumo

A CEG e a CEG Rio, distribuidoras de gás canalizado no Estado do Rio de Janeiro, informaram que somente na próxima segunda-feira, dia 22, terão uma avaliação dos percentuais de reajuste de preços para os consumidores. Os valores serão negociados com o governo estadual. No Rio, 80% do gás consumido são produzidos na Bacia de Campos.

Segundo fontes da Petrobras, o reajuste de preços também tem como objetivo frear o forte crescimento no consumo. Segundo Luiz Caetano, do Banco Brascan, nos últimos três anos o consumo de gás natural cresceu 17,5% ao ano. Para Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), o aumento tem o claro objetivo de reduzir a forte expansão do consumo.

Adriano Pires acredita que o governo está preocupado com a necessidade de, a partir de 2008-2009, aumentar a oferta de energia via termelétricas a gás. E para garantir que não faltará o gás necessário para as térmicas, decidiu conter o consumo.

Os consumidores - principalmente os do Gás Natural Veicular (GNV), que sempre foram estimulados tanto pela Petrobras como pelas autoridades governamentais a usarem o produto - agora se dizem preocupados e decepcionados. É o caso do funcionário público Leônidas Almeida, que desde 2003 converteu seu carro para uso do GNV. Segundo Almeida, ele rodou 40 mil quilômetros e economizou cerca de R$7 mil.

- Não tem uma política sólida para o gás. Está acontecendo como foi com o álcool. Estou me sentindo enganado - reclamou Leônidas.

Gás representa apenas 8% na matriz energética nacional

O especialista Adriano Pires também concorda que o problema do gás natural é a falta de uma política de governo para o produto. Anos atrás, a Petrobras decidiu estimular seu consumo e optou pelo congelamento dos preços. Agora, devido ao forte crescimento, resolveu dar uma freada.

- Na matriz energética brasileira o gás representa apenas 8% do total de energéticos utilizados, enquanto em outros países chega a 24%. Agora, esse reajuste, apesar de necessário, sinaliza como um fator para frear a sua expansão - disse.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Romero Oliveira, disse que é preciso ainda analisar com cuidado os reajustes anunciados para saber qual o impacto para as distribuidoras e seus clientes. No entanto, Romero destacou que cada distribuidora é que vai definir os percentuais de aumentos que serão repassados para cada categoria de clientes (industrial, comercial, residencial e GNV):

- Cada distribuidora vai analisar quais os preços ideais do gás para manter sua competitividade frente aos outros combustíveis.

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