Título: A POLÍTICA ECONÔMICA E A CRISE
Autor: Cristiane Jungblut/Gerson Camarotti/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 20/08/2005, O País, p. 8

A denúncia de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recebia pagamentos de empreiteira durante sua gestão à frente da Prefeitura de Ribeirão Preto deve enfraquecer ainda mais o presidente Lula no plano político. Independentemente da veracidade dos fatos, a acusação recai sobre um amigo pessoal e principal interlocutor do presidente no momento em que a crise política é extremamente aguda e já vitimou dois dos principais nomes de confiança de Lula, José Dirceu e Luiz Gushiken. Até que seja desmentida, a denúncia afeta a credibilidade e desgasta a imagem do principal ministro do governo.

O destino de Palocci, que não parece disposto a se afastar do atual cargo, permanece em aberto. Nesse sentido, vale ressaltar que sua eventual saída do Ministério da Fazenda não afetaria os rumos da política econômica, uma vez que todos os possíveis substitutos são técnicos que já integram a equipe de governo. A expectativa de continuidade da política de responsabilidade fiscal e de manutenção da estabilidade macroeconômica decorre mais da qualidade das instituições que regem a economia do país do que dos atributos pessoais daqueles que estão no poder.

Por outro lado, uma eventual saída de Palocci deixaria Lula ainda mais isolado, o que aumentaria a percepção de risco político. No entanto, as acusações contra o ministro da Fazenda dificilmente virão a modificar o atual patamar da crise política. O risco de interrupção do mandato do presidente Lula ainda permanece muito reduzido, cenário que não deve ser afetado pela nova denúncia.

O progressivo isolamento do presidente tenderia, por outro lado, a aumentar as chances de que Lula decida não concorrer à reeleição pela absoluta ausência de apoio político. A saída de Palocci do governo também extinguiria, na prática, qualquer chance de avanço das reformas institucionais no Legislativo, como os itens incluídos na agenda mínima das entidades empresariais ou na agenda positiva do próprio Ministério da Fazenda. Vale lembrar que Palocci vem atuando nos últimos meses como uma espécie de primeiro-ministro do presidente Lula, um perfil ao mesmo tempo técnico e político, que não é o mesmo de nenhum dos seus possíveis substitutos.

ROGÉRIO SCHMITT Cientista político

KLEBER SOARES FILHO Jornalista