Título: Palácio do Planalto determinou reação imediata
Autor: Cristiane Jungblut/Gerson Camarotti/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 20/08/2005, O País, p. 8

'É preciso ter muita prudência. Caso contrário, é o país que vai pagar o preço', afirmou o prefeito petista Déda

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou-se indignado com a forma como a notícia foi divulgada e avaliou que era preciso preservar o seu principal ministro, Antonio Palocci, o último integrante do núcleo de comando montado no início do governo. Do interior de São Paulo, o presidente monitorou os acontecimentos. A maior preocupação era com a repercussão das acusações no mercado financeiro. Lula considerou que era preciso agir rapidamente.

Informado no fim da manhã sobre as acusações feitas pelo advogado Rogério Buratti, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu dar um crédito de confiança a Palocci. A notícia foi transmitida ao presidente em telefonema do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. Lula foi informado de que estava sendo feita uma nota em que Palocci rebateria o depoimento do seu ex-assessor sobre a suposta propina mensal de R$50 mil quando era prefeito de Ribeirão Preto. O presidente também falou com Palocci. A nota do Ministério da Fazenda foi divulgada após essa conversa.

Segundo um ministro, o consenso era de que Palocci tinha que demonstrar com agilidade e contundência que não eram verdadeiras as declarações de Buratti. O presidente descartou o afastamento do ministro, principalmente por causa da repercussão dessa decisão na economia.

Palocci foi informado do teor do depoimento de Buratti quando estava no Rio, na reunião do Conselho da Petrobras com os ministros Jaques Wagner e Dilma Rousseff.

O ministro agiu rapidamente. Mostrou-se indignado com as primeiras notícias do depoimento. Ausentou-se da reunião para elaborar a nota por telefone com sua assessoria. Também falou por telefone com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Avaliou que as condições do depoimento eram estranhas, já que Buratti não estava acompanhado de um advogado.

Semana parecia de calmaria

Um assessor do Palácio do Planalto informou que Lula ficou apreensivo com os acontecimentos, já que a semana parecia de calmaria para o governo. Mas a ordem foi esperar novos fatos e o conteúdo completo do depoimento de Buratti. No fim da tarde, o ministro da Justiça foi à casa de Palocci. Bastos afirmou que foi dar um abraço no colega. Mas, segundo assessores do governo, o ministro foi montar a estratégia de defesa de seu colega de ministério.

À noite, a percepção no Palácio do Planalto era de que a poeira havia baixado. O governo também criticou a divulgação do depoimento e o fato de Buratti ter falado sem advogado, invocando o testemunho de um morto.

- Quem tem que ser preso é esse procurador pela irresponsabilidade. O Ministério Público não pode ameaçar a República, divulgando um depoimento antes de sua conclusão - criticou Wagner.

No núcleo do governo, a constatação era de que a situação de Palocci só ficaria insustentável se surgissem provas e evidências. Um ministro observou que o estrago com o depoimento de Buratti era incalculável. A crise política já derrubou o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, um dos pilares da primeira metade do governo. A constatação é de que agora tenta-se atingir o terceiro pilar, formado antes por Lula, Palocci e Dirceu. Com isso, Lula ficaria ainda mais só.

- Primeiro, o governo foi atingido nas pernas, com a queda de Dirceu. Agora, foi o tiro no coração, com as acusações contra Palocci. Se atingir Lula, será um tiro na cabeça - comentou esse ministro.

O avalista da economia

Os principais integrantes do PT também fazem avaliação semelhante. Para o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, no caso de Palocci a situação ainda é mais grave do que a saída de Dirceu. Isso porque o ministro da Fazenda não é apenas um conselheiro político, mas o principal avalista da política econômica do governo Lula.

- É preciso ter muita prudência. Caso contrário, é o país que vai pagar o preço. Ele é o maior responsável pela condução da nossa economia, algo muito mais frágil e nervoso do que a política - observou Déda.

Avaliação semelhante foi feita pela oposição. Para o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), Palocci tem importância política no governo principalmente por ser o avalista da economia.

- Ele é responsável por controlar o PT. Esse é o seu maior mérito no governo. Qualquer outro ministro teria dificuldade de conduzir a economia - disse Aleluia.

Legenda da foto: LULA ENTRE José Dirceu (à esquerda) e Antonio Palocci: o ministro da Fazenda é o único remanescente do núcleo inicial de comando do governo