Título: MANIPULAÇÃO DE LICITAÇÕES NA CAPITAL E INTERIOR
Autor: Evandro Spinelli
Fonte: O Globo, 20/08/2005, O País, p. 12

Promotores dizem que Buratti fazia a divisão dos contratos

SÃO PAULO. Rogério Tadeu Buratti aparece como peça-chave num esquema para manipular licitações no setor de limpeza urbana em municípios do interior de São Paulo e nas concorrências abertas na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) para coleta de lixo e varrição de ruas na capital. Advogado e ex-executivo da empresa de limpeza pública Leão & Leão (com sede em Ribeirão Preto), Buratti é apontado por investigações dos promotores de Ribeirão Preto como o responsável por discutir a participação de empresas nos contratos para os serviços de varrição.

A gestão Marta abriu duas licitações de limpeza urbana: a da coleta de lixo foi finalizada em outubro passado com a assinatura de concessão avaliada em R$9,8 bilhões por 20 anos, prorrogáveis por mais 20.

Oito empresas (em dois consórcios) venceram, num processo com denúncias de direcionamento e questionada na Justiça pelos promotores da capital e pelo prefeito José Serra. A licitação para varrição de ruas, então de R$1,4 bilhão, foi suspensa em abril passado pelo Tribunal de Contas do Município. Os contratos foram assinados por emergência e estão em vigor.

Grampos causaram queda de Buratti em Ribeirão Preto

No total, 34 empresas (dentre elas a Leão & Leão) foram habilitadas na licitação, que dividiu os serviços de varrição em 31 lotes, correspondentes às áreas das 31 subprefeituras da cidade. Buratti e outros executivos da Leão & Leão foram flagrados em gravações telefônicas com autorização judicial manipulando a participação de empresas interessadas em ganhar os 31 lotes, enquanto desistiam da concorrência maior e mais rentável, para a coleta de lixo.

Nos grampos, feitos no ano passado, há ainda ligações de Buratti para Valdemir Garreta, então secretário de Abastecimento e Projetos Especiais de Marta, e contatos com Ubiratan Sebastião de Carvalho, ex-administrador regional da petista de Luiza Erundina e dono da Construrban (que chegou a ser contratada no primeiro contrato emergência de coleta de lixo feito por Marta).

Grampos causaram a queda de Buratti do cargo de secretário de Governo na primeira gestão de Palocci em Ribeirão, em 1994. A gravação, que teria sido feita pelo próprio Buratti, traz uma suposta cobrança de propina para dar obras ao empresário Antônio de Almeida Neto.