Título: Contas de Valério têm R$37 milhões por identificar
Autor: Adriana Vasconcelos/Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 20/08/2005, O País, p. 15

Empresas do publicitário tiveram aumento de créditos a partir de 2003, no início da gestão petista, aponta relatório

BRASÍLIA. Relatório gerencial feito pela CPI dos Correios sobre as movimentações bancárias do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza mostra a existência de depósitos sem qualquer origem comprovada no valor total de R$37,27 milhões. O volume chamou a atenção dos integrantes da comissão, que tentam rastrear o dinheiro.

Relatório mostra fontes de recursos no Banco do Brasil

O documento, elaborado pelo subrelator Gustavo Fruet (PSDB-PR), responsável pelas movimentações financeiras, mostra também que a CPI analisa dados de 74 contas bancárias, 51 delas de Marcos Valério e de suas empresas.

O período de quebra do sigilo bancário envolve os últimos cinco anos. Também chamou a atenção de Fruet o volume movimentado por três empresas de Valério: Multi Action Entretenimentos Ltda, 2S Participações Ltda e Tolentino e Melo Assessoria Empresarial. Segundo o levantamento da CPI dos Correios, houve um aumento expressivo nos créditos que essas empresas apresentaram, especialmente a partir de 2003, quando começou a gestão petista.

A Multi Action, por exemplo, que até 2002 tinha recebido R$3,149 milhões, entre 2003 e 2005 recebeu R$17,633 milhões. A 2S Participações no mesmo período recebeu R$20,476 milhões. A empresa não tem registro de faturamento em 2002. Já a Tolentino e Melo Associados, que até 2002 havia faturado R$137 mil, no período do governo petista recebeu R$6,7 milhões.

O relatório do deputado Gustavo Fruet mostra as 12 principais fontes de recursos nas contas de Valério no Banco do Brasil. No período referente à quebra do sigilo bancário, o Banco do Brasil, com R$322,5 milhões, foi o principal depositante, sendo que R$21,03 milhões são provenientes de empréstimos.

Diferença entre débitos e créditos é de R$192 milhões

Os parlamentares tentam ainda identificar a razão da diferença entre débitos e créditos de R$192 milhões nos últimos cinco anos nas contas da empresa no Banco do Brasil. Os técnicos do banco estão apurando o motivo da diferença que pode ter sido provocada por uma grande quantidade de créditos abaixo de R$30 mil. A CPI só recebeu informações de operações com pessoas jurídicas acima deste valor.

CPI vai recomendar cassação

Relator analisa provas contra 18 parlamentares

BRASÍLIA. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem que considera inevitável que a comissão recomende a abertura de processo de cassação de pelo menos parte dos 18 parlamentares que foram citados em depoimentos ou contra os quais apareceram provas documentais durante as investigações.

Serraglio espera receber até quarta-feira a defesa de todos os deputados notificados pela CPI para que possa apresentar seu primeiro relatório parcial na próxima sexta-feira. Até ontem de manhã, apenas três haviam enviado sua defesa.

- Minha idéia é listar o que temos em relação a cada um. Isso não significa que todos devam ser responsabilizados pelo envolvimento em irregularidades. Vamos especificar as referências feitas a cada um e indicar as provas que colhemos, indicando os casos não conclusivos, que merecem mais investigação. Em relação a alguns, acho inevitável a indicação de abertura de processo, mas não sei se será feito.

Serraglio evitou adiantar o critério que usará para separar o grupo sujeito à punição daquele que poderá continuar sendo investigado pela CPI do Mensalão. Ele disse que ainda não tem em mãos todo o material que deverá embasar seu relatório parcial.

O relator reconheceu que não há consenso na comissão sobre o tipo de encaminhamento que deverá ser dado a seu parecer. Para Serraglio, o relatório deve ser enviado ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), a quem caberá decidir se encaminha ou não para o Conselho de Ética as recomendaçõs de abertura de processo contra parlamentares.

A decisão de centralizar o foco das investigações nos Correios e em Valério irritou alguns integrantes da CPI.