Título: GOVERNO JÁ CONSIDERA REELEIÇÃO DE LULA REMOTA
Autor: Ilimar Franco, Gerson Camarotti e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O País, p. 10

Aécio reage à boa colocação de Serra no Ibope dizendo que ninguém será candidato por causa de pesquisas

BRASÍLIA, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. A pesquisa Ibope que mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria derrotado no segundo turno pelo tucano José Serra caiu como uma bomba no Palácio do Planalto. Análises mais realistas feitas por assessores mostravam que nestas condições seria muito remota a reeleição de Lula. Segundo um graduado petista que esteve no Planalto, o resultado da pesquisa é o pior possível para o governo.

Dois resultados chamaram a atenção do Planalto: o que mostra que 52% não confiam no presidente; e o que aponta que apenas 29% dos entrevistados consideram o governo bom e ótimo. No núcleo palaciano, esse último resultado foi considerado um divisor de águas. Cientistas políticos apontam a marca de 30% de avaliação positiva como o mínimo necessário para tentar uma reeleição. A constatação é de que a crise política atingiu o governo nas classes C, D e E.

Governo avalia que não há o que fazer por enquanto

Até então, Lula tentava segurar a queda nas pesquisas com eventos e viagens. Agora, o governo avalia que, por enquanto, não tem o que fazer para recuperar a popularidade. Por isso a única estratégia é tentar debelar a crise. A esperança no governo é de que ela seja solucionada até o início do ano, para que o presidente consiga recuperar parte da popularidade no primeiro semestre de 2006. Se isso não acontecer, avaliam petistas, a reeleição corre sério risco.

¿ A pesquisa é um retrato do momento, do pior momento do governo Lula, mas não é irreversível. O levantamento foi feito no período do nosso maior desgaste político ¿ observou o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner.

Em São Paulo, Serra elevou ontem o tom de críticas ao governo federal. Disse que a queda de popularidade do presidente justifica-se pelo fato de o PT não ter sido a "reserva moral" que o país esperava e porque o eleitor está decepcionado com o governo por não ter promovido mudanças no campo social e econômico como prometera.

¿ O resultado está ligado à decepção com o governo. O PT, no governo, não cumpriu o que disse que ia fazer no Brasil. Não foi a reserva moral que o Brasil esperava que fosse ¿ disse o prefeito, reiterando, entretanto, que ainda não se considera o candidato do PSDB à sucessão de Lula.

A pesquisa revela a preferência de 44% dos eleitores pela candidatura do tucano, contra 35% para Lula. Serra, discretamente, já comemora:

¿ Fico bastante satisfeito de ser avaliado. É resultado do trabalho que desenvolvi como ministro da Saúde e na campanha de 2002. Mas há uma distância grande entre pesquisa e campanha. Falta um ano e meio para a eleição.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que já tem dito publicamente que ficaria orgulhoso de presidir o país, não tem encontrado, ao menos por enquanto, respaldo nas pesquisas. Numa simulação sem Serra, o governador paulista ficaria em terceiro lugar, com 11%, atrás de Anthony Garotinho (PMDB), com 17%, e de Lula, com 32%.

Num tom de quem ainda não está fora do jogo, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, enviou um recado direto para Serra:

¿ Ninguém será candidato do PSDB à Presidência da República apenas porque quer ser ou por aparecer em melhores condições nas pesquisas de opinião.

E defendeu unidade no partido:

¿ O grande diferencial que o PSDB terá ou um dos grandes diferenciais que o PSDB terá nas próximas eleições é sua unidade. O candidato será aquele que no momento adequado reunir as melhores condições para disputar essa candidatura, não apenas por indicadores atuais de pesquisa, mas, sobretudo, com potencialidade de crescimento e de formação de alianças. É preciso que o PSDB apresente uma proposta de governo, um projeto para o país. Isso é que, ao meu ver, falta hoje ¿ disse.

Aécio janta hoje com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo para discutir justamente a queda-de-braço entre os pré-candidatos do partido, em especial a disputa entre Serra e Alckmin. O nome do candidato do partido só será conhecido, segundo o governador mineiro, depois da mudança da executiva nacional, que deve acontecer em novembro.