Título: Tarso adia decisão sobre sucessão no PT
Autor: Ilimar Franco, Gerson Camarotti e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O País, p. 10

Presidente do PT atende a apelo de Lula e vai esperar mais 48 horas para decidir se desiste da disputa sucessória no partido

BRASÍLIA. O impasse continua. Um apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o retirou do Ministério da Educação para dirigir o PT em meio à sua pior crise, convenceu Tarso Genro a aguardar por mais 48 horas antes de anunciar sua desistência de disputar a presidência do partido em setembro. Até lá vários negociadores continuam tentando convencer o deputado José Dirceu (PT-SP) a abrir mão de integrar a chapa do Campo Majoritário.

Na conversa de 30 minutos ontem no Palácio do Planalto, Lula disse a Tarso que tinha sido um erro tornar pública a articulação para tirar Dirceu da chapa e pediu que fosse mais comedido em suas declarações. Tarso atendeu ao apelo.

¿ Hoje houve uma boa distensão. O Tarso não tomará decisão hoje ou amanhã ¿ disse o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner.

Lula disse que a queda-de-braço entre Tarso e Dirceu estava enfraquecendo o partido e o governo, e pediu que Tarso reavaliasse o ultimato a Dirceu para buscar uma solução negociada. Wagner, que se reuniu com Tarso antes do encontro com Lula, contou que o presidente do PT explicou que não teve a pretensão de marcar um dia D para a saída de Dirceu, mas que seria um gesto para não contaminar o partido, já que sua permanência se tornou polêmica.

Petista ameniza o discurso

Tarso saiu da reunião com um discurso mais ameno e evitou vincular sua decisão a Dirceu:

¿ Minha posição não está relacionada com nenhum nome, está relacionada à natureza da transição. Se for renovadora, para mudar o estilo de direção, de organizar o partido, para estabelecer outra integração entre o partido e o governo, portanto, uma ruptura com o sistema anterior, eu posso ser candidato. Se os companheiros entenderem que a transição deve ser mais suave, que deve manter um relacionamento mais estreito com o sistema dirigente anterior, estou argumentando que não sou a pessoa mais indicada.

Uma das alternativas é a retirada de ambos da chapa:

¿ Os dois estão analisando a conveniência de ficar na chapa. Mas o mais importante é o projeto do governo. Os dois têm que entender isso e reavaliar suas posições ¿ disse Wagner.

Desde de terça-feira Tarso estava sendo pressionado a rever o abandono da candidatura. Numa reunião com prefeitos petistas, na Câmara, ele foi criticado pelo ultimato a Dirceu, ao mesmo tempo em que eles pediam mais tempo para convencê-lo a sair da chapa. Mas Tarso deixou claro que não vê como fechar um acordo que mantenha o ex-ministro na chapa. E marcou novo prazo de 48 horas para o fim das negociações.

¿ Estamos vendo qual a melhor saída. Não há solução ainda e a pressa não é minha porque o impasse não está relacionado comigo ¿ afirmou Tarso.

Ontem pela manhã foi a vez de Dirceu ser pressionado. Ele se reuniu com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, e o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, que falaram da conveniência política de sua saída da chapa. Dirceu reafirmou que não pretende sair dessa forma, mas está disposto a ajudar a construir uma solução para o comando do partido.

À noite, moderados como o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini (SP), buscavam outro nome para substituir Tarso. O preferido desse grupo é o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.