Título: Ligado na Fazenda
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O País, p. 3

Buratti foi recebido nove vezes no ministério por chefe de gabinete de Palocci e ligou para assessor

Novos dados da quebra do sigilo telefônico de Rogério Buratti enviados ontem à CPI dos Bingos e uma nota divulgada pelo Ministério da Fazenda mostram que o advogado tinha acesso a dois assessores próximos do ministro Antonio Palocci. O chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, admitiu que Buratti esteve pelo menos nove vezes no prédio do ministério desde o início do governo Lula.

A nota de Juscelino, confirmando que Buratti esteve no ministério, foi divulgada 24 horas depois de o ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto ser convocado para depor na CPI dos Bingos. Anteontem, a CPI aprovou também um requerimento do senador Romeu Tuma (PFL-SP) solicitando ao ministério a relação completa das pessoas que foram ao prédio desde outubro de 2003.

Na nota, Juscelino diz que os encontros não significaram ¿acesso por parte do senhor Buratti a nenhum tipo de benefício quanto a serviços ou contratos junto ao governo federal¿. Ele afirma que conhece Buratti há mais de 15 anos, que os dois foram colegas de trabalho e que continuam amigos.

¿O senhor Rogério Buratti é meu padrinho de casamento. Nossas famílias se conhecem e compartilham atividades sociais e comemorativas. Recebi visitas do senhor Rogério Buratti, algumas vezes, no Ministério da Fazenda. Estimo um total de nove encontros. Considero que esses encontros estão dentro do contexto do relacionamento acima descrito¿.

Mas a explicação não foi digerida pela oposição.

¿ O gabinete do ministro não é lugar de piquenique, de convescote. Esses encontros estão desde já sob suspeita ¿ afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse ter estranhado as visitas de Buratti ao Ministério da Fazenda:

¿ É estranho Buratti ter uma certa freqüência no ministério.

Já o relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-PB), duvida da versão de que os encontros aconteceram por motivos sociais:

¿ Não é possível que não trataram de assuntos administrativos. O gabinete do ministro da Fazenda não é o local apropriado para amenidades.

Quarenta e dois minutos de conversa

Segundo documentos enviados à CPI dos Bingos, Buratti fez em 2003 pelo menos 12 ligações para o celular de um assessor de Palocci. Ele também telefonou seis vezes para a casa do ministro. No total seriam 42 minutos de conversa, sendo que 28 para o telefone residencial.

As ligações para a casa do ministro foram feitas em 24 de janeiro e 6 de julho de 2003. Na primeira data, foram quatro ligações. Na segunda, duas. Outras três ligações para a casa de Palocci já tinham sido divulgadas a partir da quebra de sigilo de outro telefone de Buratti. Quando surgiram as primeiras notícias sobre ligações de Buratti para sua casa, Palocci divulgou nota afirmando ter recebido "dois ou três telefonemas¿.

No caso das ligações para celular, o advogado telefonava para o número do aparelho usado por Ademirson Ariovaldo da Silva, que está sempre ao lado do ministro em eventos públicos. Na transição de governo, o próprio Palocci forneceu esse número para uma repórter do GLOBO.

A assessoria de Palocci informou ontem que o número não é do ministro. Para minimizar o fato de que o próprio ministro já deu o número para uma jornalista, a assessoria sustentou que Palocci costuma dar o número de seu assessor quando algum repórter pede um contato com ele. Em algumas ocasiões, Palocci também já deu o número de seu assessor de imprensa Marcelo Neto. Segundo o Ministério da Fazenda, o aparelho que recebeu as ligações de Buratti estaria com Ademirson desde o período da transição.