Título: Em reunião com chefes dos poderes, Lula admite não disputar a reeleição
Autor: Cristiane Jungblut, Luiza Damé e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O País, p. 4
Nota conjunta atesta que o país está hoje em completa normalidade
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu ontem o apoio dos presidentes dos poderes Legislativo, do Judiciário e da Procuradoria Geral da República para, em nota conjunta, atestarem que o país está em completa normalidade, com o pleno funcionamento das instituições democráticas ¿num momento em que uma profusão de acusações vem a público¿. Na reunião de quase duas horas Lula também discutiu a enorme dificuldade que terá de disputar a reeleição. Estavam presentes e assinaram a nota os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE); do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim; e o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
Na reunião, um dia depois de pesquisa do Ibope mostrar que a crise o atingiu em cheio, Lula mostrou aos chefes dos outros poderes que ainda não decidiu seu futuro político e admite não disputar a reeleição. O presidente listou três condições que o levariam a concorrer a um novo mandato, mesmo depois de pressões para que desista da eleição de 2006. A primeira é estar muito bem avaliado nas pesquisas de opinião. A segunda é a economia. Lula quer ter resultados econômicos no fim deste mandato que projetem um segundo governo em que possa realizar mais. A terceira, o partido. Para o presidente, ele deve entrar na briga pela renovação do mandato na hipótese de o PT estar no limbo, sem nome forte para a eleição.
Lula também afirmou que tem forte expectativa de apresentar bons resultados tanto na área econômica quanto na social. No encontro, o presidente afirmou que está estupefato com a profusão de denúncias de corrupção e que tem dado força às investigações. Ele não descartou um novo pronunciamento à nação, mas disse que não pode ir à televisão para repetir que quer ver tudo investigado e os culpados punidos. E tampouco quer ir à TV para ter de explicar a conduta de terceiros.
Na nota conjunta os chefes dos três poderes, além do Ministério Público, garantiram ¿o irrestrito prosseguimento das investigações em curso¿. Como forma de mostrar que combate a corrupção, Lula apresentou aos demais uma proposta de nova legislação para o crime de lavagem de dinheiro. Na verdade, a proposta já foi divulgada várias vezes pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, inclusive na reunião ministerial do dia 12 passado.
Vidigal critica MP de São Paulo
Mais cedo, Lula se encontrou com o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal. Na saída, Vidigal criticou o ¿exagero das CPIs¿ e também o Ministério Público de São Paulo, que vazou o depoimento de Rogério Buratti, ex-assessor de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto.
¿ O Congresso tem assegurado o direito da investigação sempre que há um fato determinado. Isso não pode ser visto como crise. A investigação tem que ir a fundo, o que está havendo é a coreografia do momento. Alguns atores estão exagerando em seus papéis, mas os exageros também são muito típicos de momentos raros como este. É preciso ver o tom da rabeca para continuar trabalhando. Eu não estou com a rabeca, a rabeca está com o presidente Lula ¿ disse o presidente do STJ.