Título: CPI quebra o sigilo de três fundos de pensão
Autor: Rodrigo Rangel e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O País, p. 9

Objetivo é saber se R$55 milhões liberados para Valério têm alguma relação com investimentos dessas instituições

BRASÍLIA. A CPI dos Correios aprovou ontem a quebra do sigilo das movimentações financeiras de três fundos de pensão ¿ Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Geap (servidores da administração direta) ¿ nos bancos BMG e Rural, de onde saíram os supostos empréstimos de R$55 milhões que o empresário Marcos Valério de Souza repassou a políticos do PT e de partidos aliados, sob orientação do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Hoje a comissão deverá quebrar o sigilo das aplicações dos outros oito fundos de pensão de estatais nos dois bancos.

A comissão quer saber se o dinheiro liberado para Valério tem alguma relação com recursos aplicados pelos fundos nos dois bancos. A oposição comemorou a aprovação do requerimento, embora não tenha havido resistência dos parlamentares governistas.

¿ Temos convicção de que as aplicações foram feitas a pedido de Valério ¿ disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

¿ Finalmente a CPI começa a tomar providências para desvendar a grande caixa preta que são os fundos de pensão ¿ emendou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

O deputado Maurício Rands (PT-PE) disse que o governo nada tem a temer:

¿ Ao governo e ao PT, interessa esclarecer a verdade.

A aprovação da quebra do sigilo foi limitada aos dois bancos, depois de uma tentativa da CPI de fazer uma ampla devassa nas contas dos fundos. A Geap informou que ¿não possui investimentos nem realizou qualquer movimentação financeira¿ no BMG e no Rural desde 1999.

Os dirigentes de três dos maiores fundos de pensão do país ¿ Previ (Banco do Brasil), Petros e Funcef ¿ foram ontem à CPI do Mensalão explicar as operações feitas com BMG e Rural. Os depoimentos foram considerados pelos parlamentares da CPI dos Correios uma tentativa de esvaziar as investigações da comissão. Os três se ofereceram espontaneamente.

Fundos negam relação comercial com Valério

Depois do depoimento, tomado reservadamente pelos parlamentares, os presidentes da Petros, Wagner Pinheiro, e da Previ, Sérgio Rosa, disseram que os negócios foram feitos dentro da legalidade e das taxas de mercado. A Petros investiu em fundos de investimentos de direitos creditórios R$80 milhões no BMG e R$5,5 milhões no Rural, além dos R$10 milhões em Certificados de Depósito Bancários (CDBs) do Rural, o que representa 0,4% do patrimônio total da fundação. Rosa disse que a Previ investiu cerca de R$60 milhões em 2004 nos dois bancos, mas as aplicações já foram pagas.

Os executivos disseram não ter relação comercial com Valério, exceto por dois imóveis, um da Previ e outro da Funcef, alugados pelas empresas do publicitário em Brasília. Pinheiro informou que a Petros, entre 2003 e 2005, pagou R$485 mil à Globalprev, que pertenceu ao ex-ministro Luiz Gushiken, a título de consultoria e assessoria atuarial. Ele explicou, entretanto, que outras quatro empresas prestaram consultoria ao fundo.

Também ontem, a CPI dos Correios decidiu pedir à Polícia Federal cópia dos arquivos dos computadores apreendidos na agência do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Em nova sessão hoje, os parlamentares decidirão se convocam o doleiro para depor em Brasília. Ontem os governistas deram uma amostra do que pode ser o resultado da votação: conseguiram barrar um pedido para que a convocação fosse votada antes dos outros requerimentos, por 15 votos a 11.

No pacote de requerimentos de consenso, foi aprovada a convocação do doleiro Dario Messer, apontado por Barcelona como responsável por operar contas internacionais do PT. A CPI também vai ouvir Marcelo Viana, funcionário de Barcelona que trocaria dólares para petistas.

Os parlamentares aprovaram ainda a convocação do presidente do BMG, Ricardo Annes Guimarães; do ex-diretor-geral da Abin Mauro Marcelo de Lima e Silva; do ex-presidente do INSS Carlos Bezerra; e de dirigentes da corretora Bônus-Banval, usada no esquema de Valério. A CPI pedirá à Receita Federal para verificar a autenticidade de notas fiscais apreendidas na DNA Propaganda, de Valério.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), voltou a reclamar do atraso no envio dos dados das quebras de sigilo aprovadas pela comissão. Ele ameaçou pedir à Polícia Federal que faça operações de busca e apreensão.