Título: Voltando às origens
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O Globo, p. 2

Depois de patinar algumas semanas e ver crescer a importância da CPI dos Bingos, com a queda do ministro Palocci em sua mira, a CPI dos Correios volta a seu desafio original, a busca da origem dos recursos que abasteceram o valerioduto. A nova aposta agora é nas operações financeiras dos fundos de pensão com os bancos Rural e BMG. Das entranhas do PT vem uma versão um pouco diferente para a história de Delúbio-Valério, revelando negócios que deram errado por conta das disputas internas.

Petros, Funcef e Geap tiveram o sigilo de suas aplicações quebrado ontem. Hoje cairão outros oito fundos. Antonio Carlos Magalhães Neto, coordenador do subgrupo de fundos de pensão da CPI, acredita que o exame das aplicações nos dois bancos trará ouro em pó: perdas para os fundos destinadas a cobrir os empréstimos feitos ao PT e a Valério. Diz ele que a abertura deste veio, juntamente com o plano de trabalho de sua autoria encampado pelo presidente, senador Delcídio, darão novo rumo à CPI: nas terças-feiras os subgrupos trabalharão separadamente, inclusive colhendo depoimentos secundários; nas quartas, depoimentos mais importantes em plenário; nas quintas, reuniões administrativas e exame da papelada. O fato é que em algum momento a CPI terá que apresentar uma conclusão, provando que houve um assalto aos cofres públicos ou aceitando a versão dos empréstimos bancários.

O exame dos contratos dos Correios tem mostrado irregularidades mas não drenagem para o valerioduto. Tudo indica que a teta tinha outros donos. Há boas indicações, ainda sem provas, que o BB e o Banco Popular engordaram os pagamentos à DNA, agência de Valério que os atendia. Enquanto não se chega ao ouro em pó, navega-se num mar de indícios e versões.

A de ACM Neto e de quase toda a oposição é a de que o PT mantém dinheiro no exterior há muito tempo. Quem disse isso foi o doleiro preso Toninho da Barcelona, mas Duda Mendonça, diz Neto, reforçou a hipótese ao confessar que recebeu lá fora. O dinheiro do PT seria administrado pela Trade Link Bank, que tem ligações com o Banco Rural. Seria fruto de doações de bancos, empresas e concessionárias em troca de favores do governo. Com os empréstimos, o Rural teria adiantado recursos em reais, recebendo-os lá fora através da Trade Link. A CPI tentará aprovar hoje a convocação de Barcelona. Para Neto, ¿ele não é menos criminoso que os outros investigados¿.

Agora a versão que vem do PT, de fontes laterais, digamos assim, não vinculadas a Delúbio e seu grupo. Valério teria antecipado recursos para o PT já em 2002. O partido entrou 2003 endividado e continuou valendo-se dos adiantamentos. Fez os primeiros empréstimos em seu próprio nome e depois no de Valério. Ele se encarregaria de pagá-los desde que o PT lhe facilitasse um grande negócio: a intermediação da entrega do espólio do falecido Banco Mercantil de Pernambuco ao Rural, já detentor de 20% das ações. Ganharia por isso uma bolada, como é regra no mercado. Pagaria os empréstimos e ficaria no lucro. O carrossel foi girando, mas a Fazenda não facilitou o negócio. Efeito da disputa Palocci-Dirceu. No meio do caminho, outra disputa. O BC informou que o Rural não atendia às exigências para abocanhar o Mercantil. O BMG conseguiu então o patrocínio de outros membros do grupo dirigente para ficar com o negócio. Valério e o Rural seriam compensados da mesma forma e os empréstimos, quitados. Mas nada aconteceu e Valério, desesperado, passou a buscar outros negócios em que o PT poderia ajudá-lo. Tentou intermediar a venda da Telemig à Portugal Telecom, que também não deu certo por conta de disputas petistas, a briga Dirceu-Gushinken. Nisso, Roberto Jefferson explodiu tudo. Esta versão não é menos grave nem menos feia, mas é uma outra.

Saldos no social

A pesquisa Ibope mostrou a primeira grande queda na aprovação do governo e nas chances de reeleição do presidente Lula. O próprio presidente interino do PT, Tarso Genro, fala como se o governo tivesse acabado. Evitando entrar na disputa petista, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, sai em defesa dos saldos do governo na área social.

¿ Em qualquer tempo, o presidente Lula poderá dizer que seu governo trouxe grandes avanços na área social ¿ diz ele desfiando números:

Os gastos com todos os programas foram de R$7,2 bilhões em 2002, de R$14 bilhões em 2004 e chegarão a R$17,1 bilhões este ano. A Bolsa Família atendeu 3,6 milhões de famílias em 2003 e 6,6 milhões em 2004. Este ano, em julho, alcançou a marca de 7,3 milhões, devendo chegar a 8,7 milhões em dezembro. Todos os municípios do país já são cobertos pelo programa, que no final de 2006 terá alcançará o universo-meta de 11,6 milhões de famílias. O chamado BPC, benefício de uma salário-mínimo (LOAS) para idosos sem previdência e portadores de deficiência, alcançava 1,6 milhão de pessoas em 2002. Hoje são atendidas 2,7 milhões.

Patrus apresenta números positivos para o Peti, Casas de Família, projeto Sentinela (jovens em situação de risco) e outros programas. Não gosta que se lhe pergunte sobre o efeito eleitoral destes benefícios, mas evidentemente o governo conta com ele. A pesquisa Ibope, entretanto, mostrou que Lula começou a perder pontos também nas classes C, D e E.

JÁ COMEÇOU a disputa, no PP do Rio, pelo espólio de votos do deputado Francisco Dornelles, segundo mais votado do estado em 2002. Ele concorrerá ao Senado, com ou sem coligação.