Título: CAIXA TERÁ R$1 BILHÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA PARA FINANCIAR IMÓVEIS
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 25/08/2005, Economia, p. 28

Juros da nova linha de crédito habitacional ficarão entre 10% e 12% ao ano

BRASÍLIA. A volta da Caixa Econômica Federal ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH), após 13 anos, acontecerá em setembro. A superintendente Nacional de Habitação da instituição, Vera Lúcia Martins, informou ontem também que o banco terá inicialmente R$1 bilhão em recursos da caderneta de poupança liberados para um novo produto, que vai financiar até 80% do valor do imóvel, com pagamento em até 20 anos. Os juros ficarão entre 10% e 12% ao ano.

O público-alvo do novo programa de crédito habitacional é a classe média que procura imóveis com valor médio de R$100 mil. Os detalhes finais serão fechados daqui a duas semanas, na reunião do conselho da Caixa.

¿ A Caixa reviu as características das linhas com recursos de poupança. A idéia é entrar neste mercado em setembro ¿ afirmou Vera, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Volume de empréstimos pode chegar a R$4,5 bilhões

Segundo ela, a Caixa pretende utilizar os recursos da poupança para atender a quem não consegue se enquadrar nas regras para financiamentos pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). As operações com dinheiro do FGTS estão limitadas a famílias com renda mensal de até R$4.900, para compra de imóveis com valor máximo de R$80 mil.

Vera Lúcia citou o caso de mutuário que tem um imóvel de R$40 mil e quer adquirir outro de R$100 mil com um novo empréstimo complementar de R$60 mil, mas as normas do Fundo o impedem.

¿ O que dificulta um empréstimo com FGTS é o valor do imóvel e não a renda familiar. Quando não for atendido com recursos do FGTS, vamos entrar com dinheiro da poupança ¿ explicou a superintendente da Caixa.

Os empréstimos do SFH com recursos da poupança têm um limite de juros de 12% ao ano mais a taxa referencial (TR), e um teto de R$150 mil por operação de crédito. O Conselho Monetário Nacional (CMN) mudou as regras do sistema em janeiro para desafogar o excesso de recursos que os bancos tinham nas contas de poupança e dificilmente conseguiriam emprestar em 2005.

O Banco Central exige que os bancos apliquem 65% dos recursos da poupança em casa própria, mas estão com uma aplicação média acima de 80%. A Caixa Econômica tinha historicamente um excedente ainda maior e, por isso, deixou o mercado em 1992.

¿ Devemos atingir um volume entre R$4,2 bilhões e R$4,5 bilhões neste ano, em operações com recursos da poupança e, assim, a chegaremos à meta de crescer 50% em relação aos R$3 bilhões de 2004 ¿ disse o diretor-geral da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Osvaldo Correa Fonseca.

O diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, que também participou da audiência da CAE, ressaltou que o mercado de crédito imobiliário atravessa um período de grande expansão. Para ele, houve uma concentração de operações no segmento de alta renda nos últimos anos. Darcy avaliou que a grande fonte de recursos virá da securitização dos financiamentos de casa própria.

Juros elevados afastam investidores da poupança

Na securitização, os bancos emitem um título com garantia de empréstimos habitacionais já realizados, vendem estes papéis aos fundos de pensão e assim antecipam o dinheiro que seria recebido apenas em 15 ou 20 anos.

¿ Os juros elevados no Brasil tornam os fundos de investimento mais atrativos, e os fundos de pensão preferem investir neles. O interessante é como as cadernetas de poupança ainda resistem e conseguem captar recursos ¿ avaliou Darcy.