Título: APESAR DA CRISE, INVESTIMENTO EXTERNO NA BOVESPA ESTÁ POSITIVO EM AGOSTO
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 25/08/2005, Economia, p. 28

Saldo estrangeiro ficou em R$558,8 milhões até o dia 19 do mês

Os desdobramentos da crise política não afetaram o fluxo de investimento estrangeiro na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em agosto. Segundo levantamento feito pela Bolsa, até o dia 19 do mês, o saldo externo ficou positivo em R$558,8 milhões, resultado de compras de R$9,076 bilhões e vendas de R$8,517 bilhões. No ano, o balanço está positivo em R$3,5 bilhões. Analistas explicam que os estrangeiros têm aproveitado as fortes oscilações e eventuais quedas da Bolsa para comprar papéis brasileiros a um valor mais baixo, lucrando no curto prazo.

Para identificar o apetite dos estrangeiros, basta um olhar mais cuidadoso nas ações que mais subiram no mês. São papéis de exportadoras, bancos e empresas de telecomunicações, tradicionalmente as preferidas dos aplicadores externos. Enquanto o Ibovespa ¿ índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa ¿ avançou modestos 2,8% no acumulado de agosto até o dia 23, as ações de Banco do Brasil, Gerdau, Brasil Telecom, Bradesco, Unibanco, Petrobras e Embraer subiram 16,3%, 15,5%, 14,5%, 13,4%, 13,2%, 10,4% e 10,2%, respectivamente, de acordo com dados da consultoria Economática.

¿ Os estrangeiros vêm consistentemente tirando partido da crise política para faturar alto na Bolsa, comprando papéis a um preço melhor. Na sexta-feira, que foi o dia mais tenso das últimas semanas, com as denúncias contra o ministro Antonio Palocci, os investidores externos compraram R$320 milhões em ações, num total movimentado pela Bolsa de R$1,8 bilhão ¿ explica Gustavo Harckbart, analista de Renda Variável da Fides Asset Management.

¿ Os estrangeiros tradicionalmente preferem as ações de bancos e exportadoras, que são os papéis que vêm resistindo nas últimas semanas ¿ completa Marco Melo, analista da corretora Àgora Senior.

Dólar sobe 1,25% e risco-país avança 1,93%

Ontem não foi diferente. A Bolsa recuou 0,21%, mas as ações da Petrobras subiram 3,64%, seguidas pelas de Telemar (3,14%), Bradesco (2,76%) e Itaú (1,77%).

No mercado financeiro, o dia foi de cautela com o novo recorde nos preços do petróleo e expectativa em torno do depoimento, hoje, do advogado Rogério Buratti, na CPI dos Bingos e da divulgação, também hoje, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica de juros (Selic) em 19,75% ao ano. O dólar subiu 1,25%, cotado a R$2,439. O risco-Brasil avançou 1,93%, para 422 pontos centesimais e o Global 40 recuou 1,15%, para 116,4% do valor de face.

Os analistas esperam que a ata dê sinais mais explícitos de que a redução da Selic está próxima. Muitos apostam em queda já em setembro, com o recuo de vários índices de inflação. Ontem, novo índice apontou deflação. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S, que mede semanalmente, a inflação acumulada nos últimos 30 dias) registrou deflação de 0,31% no Rio de Janeiro e de 0,35% em São Paulo, na terceira semana de agosto.

O IPC-S caiu em seis das sete maiores capitais do Brasil e em cinco houve deflação. A única metrópole onde a inflação subiu foi Brasília (0,42%). O comportamento dos preços no Rio e em São Paulo seguiu a tendência nacional, em que a queda foi puxada pelos itens alimentação e habitação.

COLABOROU: Carlos Vasconcellos