Título: BRASIL E ARGENTINA NEGOCIAM ACORDO
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 25/08/2005, Economia, p. 30

Países discutem a abertura do mercado de carros, prevista para 2006

BRASÍLIA. A partir de hoje terá início, em Buenos Aires, uma das mais complexas e estressantes negociações envolvendo Brasil e Argentina. Os dois países tentarão chegar a um consenso sobre o que acontecerá a partir de janeiro de 2006 no intercâmbio bilateral de veículos e autopeças. Embora a liberalização comercial esteja prevista no chamado acordo automotivo, em vigor desde 2001, a Argentina já indicou que quer mais tempo. Fontes do país vizinho falam em prorrogação, até 2008, do prazo para a abertura total do mercado.

O Brasil vai à reunião disposto a brigar pelo livre comércio. Em primeiro lugar, porque o acordo automotivo é um sinal importante para investidores internacionais. Um recuo pode adiar planos e projetos numa área em que o Brasil deslancha nos mercados doméstico e internacional, disse uma fonte da área econômica. Em segundo lugar, porque é a segunda vez que ocorreria o adiamento. A primeira foi em 2000, ano em que não haveria mais cotas, tarifas alfandegárias ou qualquer outro tipo de limitação no setor.

O fato é que o presidente Néstor Kirchner pretende proteger a indústria automotiva na Argentina da concorrência brasileira. Ele alega que há assimetrias tanto na produção como no comércio bilateral, e defende igualdade de condições para produzir nos dois países.

Argentinos reclamam de incentivos fiscais do Brasil

As autoridades argentinas não se conformam, por exemplo, com os incentivos fiscais concedidos pelos governos estaduais brasileiros. Elas ainda esperam uma fatia maior do mercado de carros econômicos ou populares ¿ a categoria mais vendida naquele país.

Empresários brasileiros do setor automotivo acreditam que as negociações serão longas e difíceis e, não importa o que ficar decidido, o acordo terá de ser revisto.

De janeiro a julho deste ano, o o setor automotivo brasileiro exportou cerca de US$500 milhões ao mercado argentino, valor 24,89% superior ao registrado nos sete primeiros meses de 2004. Os argentinos venderam ao Brasil em torno de US$123 milhões de automóveis, sem contar veículos a diesel e outros. Pelas regras atuais, para cada dólar importado, o país pode exportar ao parceiro 2,6 dólares sem tarifa de importação (35%).