Título: PRESIDENTE IRONIZA DECLARAÇÃO DE PASTOR AMERICANO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O Mundo, p. 34

Chávez diz estar preocupado com a pobreza nos EUA

BUENOS AIRES. Fiel a seu estilo polêmico, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, optou pela ironia ao contestar as declarações do pastor evangélico Pat Robertson ¿ que anteontem sugeriu ao governo do presidente George W. Bush assassiná-lo. Em visita à Jamaica ¿ para assinar um acordo de cooperação energética ¿ Chávez afirmou que seu governo ¿está muito preocupado com o aumento da pobreza nos EUA¿ e que gostaria de ¿vender petróleo às comunidades mais pobres¿ daquele país.

Dos 3,2 milhões de barris de petróleo produzidos diariamente na Venezuela, aproximadamente 1,3 milhão são exportados para os EUA.

¿ O barril da gasolina venezuelana está (cotado) a US$80. Se você quiser vender combustível em Nova York ou São Francisco, eles (as companhias petrolíferas) cobram quase o dobro, porque existem intermediários que especulam, aumentam os preços e abusam dos consumidores. Estamos dispostos a vender combustíveis às comunidades mais pobres ¿ disse Chávez, que nos últimos meses assinou uma série de acordos energéticos com países caribenhos, centro-americanos e sul-americanos, nos moldes do entendimento selado anteontem com o governo da Jamaica.

Cooperação e alimentos em troca de petróleo

Quinto maior produtor de petróleo do mundo, a Venezuela fornece combustíveis aos países da região a preços mais baixos e condições vantajosas de pagamento. O primeiro país a assinar um acordo com Chávez foi Cuba, um dos principais aliados da Venezuela no continente, e que nos últimos anos trocou petróleo por cooperação nas áreas de saúde e educação. Também foram fechados acordos com Argentina, Uruguai, Equador e vários países centro-americanos. Em alguns casos, os países fornecem produtos à Venezuela, principalmente alimentos, em troca de petróleo.

A chamada diplomacia do petróleo implementada pela Venezuela é observada com preocupação pela Casa Branca, que acusa Chávez de utilizar recursos energéticos para armar uma frente antiamericana no continente. Representantes do governo chavista asseguram tratar-se apenas de um gesto de solidariedade.

¿ Cada país tem o direito de usar suas riquezas como bem entender. A Venezuela é uma potência petrolífera. Nossas reservas atingem 313 bilhões de barris e decidimos ampliar os negócios vendendo para outros países, e não apenas para os EUA ¿ disse ao GLOBO, por telefone, o deputado Calixto Ortega, do Movimento Quinta República, fundado por Chávez.

Para Ortega, ¿ajudar países amigos é legítimo e obter apoio em troca dessa ajuda, também¿.