Título: EUA TÊM PLANO PARA NEUTRALIZAR CHÁVEZ NA AMÉRICA LATINA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O Mundo, p. 34

Washington acredita que presidente será reeleito e prepara estratégia para impedir que ele aumente sua influência. Pastor diz que foi mal interpretado

WASHINGTON. Enquanto o pastor evangélico Pat Robertson tratava de negar, ontem, sem muita convicção e de forma estabanada, a proposta que ele próprio fizera um dia antes pela televisão ¿ de que o governo americano assassinasse o presidente da Venezuela, Hugo Chávez ¿ o Departamento de Estado finalizava um novo plano de ação para tentar isolar aquele governante, de forma muito semelhante à que usa com o líder cubano, Fidel Castro.

Robertson disse que fora mal interpretado pela imprensa:

¿ O que eu disse foi que as nossas forças especiais poderiam tirá-lo de lá. Isso pode significar várias coisas, inclusive seqüestro. Há várias maneiras de tirar um ditador do poder, além de matá-lo ¿ argumentou.

Videoteipe mostra que pastor falou mesmo em matar

No entanto, o videoteipe de seu programa de TV, exibido em vários noticiários ontem, registrava claramente a intenção real de Robertson:

¿ Se ele (Chávez) acha que estamos tentando assassiná-lo, eu acho que chegou a hora de exercitarmos esse nosso poder.

Segundo uma alta fonte do governo, está prestes a ser lançada uma estratégia visando debilitar Chávez. Ela será de longo prazo, uma vez que há convicção em Washington de que ele será reeleito por mais seis anos em 2006. Mas embora ela contenha iniciativas discretas ¿ como o financiamento de partidos da oposição, de fundações e de grupos não-governamentais contrários ao regime ¿ deverá proporcionar, também, golpes de impacto mais ruidoso.

O primeiro deles, a ser deflagrado já em setembro, seria declarar que a Venezuela não vem cooperando com a Lei Internacional de Controle de Narcóticos (de 1992). Na prática, isso significará a suspensão da ajuda humanitária (a projetos sociais) dos EUA àquele país. E, ao mesmo tempo, a negativa de apoio a empréstimos que a Venezuela venha a solicitar a instituições multilaterais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Fundo Monetário Internacional.

A preocupação central da Casa Branca é com o petróleo, e com a crescente influência de Chávez em países mais pobres da região, através dos petrodólares da Venezuela ¿ que é um dos quatro maiores fornecedores desse produto aos EUA.

Temor de que Chávez queira reduzir fornecimento aos EUA

Há o temor de que um recente acordo de Chávez com a China, e a sua busca de outros consumidores na América Latina, seja uma tentativa de reduzir o fornecimento aos EUA.

¿ O homem está sentado numa fonte de energia que é essencial para nós. A situação é extremamente delicada, e as declarações de Robertson só serviram para torná-la mais complicada. Temos de encontrar meios de neutralizar Chávez, sem que isso ponha em risco o nosso abastecimento de petróleo ¿ disse um diplomata americano.

Há uma clara disputa nos bastidores do governo Bush. Enquanto alguns setores sugerem uma política de contenção menos drástica, outros crêem que Chávez só poderá ser domado à força. Roger Pardo-Maurer, vice-secretário de Defesa assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, está no segundo grupo. Ele quer ações mais duras para aniquilar o que chama de ¿a estratégia de hiena¿ de Chávez:

¿ Ele está atormentando países frágeis. O que ele faz é nada mais do que subversão.