Título: ONG REÚNE CRIANÇAS PALESTINAS E ISRAELENSES
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 25/08/2005, O Mundo/ Ciencia e Vida, p. 36

Meninos e meninas superam rivalidade histórica de seus povos em um mês de convívio em férias na França

PARIS. Elad Ben Aroya, 12 anos, juntou-se com um sorriso contagiante às crianças de um grupo para uma foto ontem em Paris. Feliz, exclamou bem alto: ¿Camembert!¿, no lugar de ¿cheese¿ (¿queijo¿, em inglês, que se diz para aparecer sorrindo em fotos). Parecia uma criança qualquer. Mas Elad é um israelense de Netania que escapou ileso, mas viu o pai e muita gente morrer num dos maiores atentados terroristas que a cidade já viu: 30 mortos, 140 feridos, em março de 2002. Sua família estava no restaurante do Park Hotel comemorando o feriado judaico, quando um palestino-bomba se detonou.

Idéia é mostrar que longe de guerra crianças são iguais

As crianças com quem Elad posou para a foto eram palestinas. Ele faz parte um grupo de judeus e palestinos que passaram as férias juntos na França. Uma idéia ambiciosa da organização francesa Secours Populaire para mostrar que, fora do ambiente contagiado de guerra, crianças palestinas e israelenses são como quaisquer outras: querem brincar, sem preconceito.

A experiência deu certo. Depois de semanas dormindo e comendo juntos à beira do mar no norte da França, muitos trocaram endereços e telefones, com promessas de manter o contato. Foi o caso de Tasnim Habashi, 13 anos, árabe-israelense de Jaffa. Em Israel, ela nunca encontra palestinos e não convive muito com judeus. Mas na França, ficou amiga de Karine Naor, judia de 12 anos de Netania, e encontrou pela primeira vez palestinos.

¿ Eu sonhava com isso, encontrar os palestinos ¿ disse Tasnim.

Já Karine procura afastar o conflito de sua mente:

¿ Tento não pensar nisso. Eu tenho um monte de novos amigos. Na verdade, não somos diferentes.

Só houve um problema: quase ninguém falava a língua do outro. Mas o palestino Awas Abdelrahim, de 11 anos, disse que isso não atrapalhou:

¿ Nós nos divertimos. Pudemos conhecer os israelenses. E não falamos de política¿ somos crianças ¿ ponderou.

A experiência foi marcante também para os acompanhantes, como a professora de educação física Rachel Revah, de 43 anos, de Netania. Seu filho está no Exército de Israel participando da operação de retirada dos colonos israelenses da Faixa de Gaza. Ela volta convencida de que judeus e palestinos podem conviver. Seu sonho: que o seu filho vire apenas um soldado ¿normal¿, num país sem guerra.