Título: 'Resultado da economia este ano não será uma Brastemp', admite
Autor: Cristiane Jungblut/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 26/08/2005, O País, p. 4

Lula diz que, se houver retrocesso, resultado será 'em cima dos mais pobres'

BRASÍLIA. A avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o desempenho da economia, que este ano ficará aquém do esperado, surpreendeu os empresários que participaram do encontro. A declaração contraria previsões de integrantes do próprio governo, que vinham apostando num crescimento do PIB maior devido ao bom desempenho no segundo trimestre do ano.

Lula foi enfático ao dizer que não mudará a política econômica e não cederá a pressões eleitorais para que isso aconteça. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que há dois dias consecutivos vinha aparecendo ao lado de Lula em cerimônias, não estava na reunião do CDES, apesar de grande parte dos conselheiros ser de empresários.

- Estou extremamente otimista com a economia. Mas quero fazer um alerta aos pessimistas: o resultado deste ano não será uma Brastemp, mas será um bom resultado - disse, citando um slogan famoso.

O presidente disse que não se pode fazer populismo com a economia:

- Quando deixarmos o governo, que vier outro, não vão poder brincar de fazer populismo com a política econômica brasileira ou com as instituições brasileiras.

Lula defende política de juros

Lula disse que a economia pode ser prejudicada por causa da crise política ou mesmo das eleições de 2006 e garantiu que se empenhará para que isso não aconteça. A previsão oficial de crescimento do PIB para este ano é de 3,5%, contra os 4,9% alcançados em 2004.

- Se a economia sofrer um retrocesso, o resultado de tudo isso vai ser em cima das costas da parte mais pobre da população brasileira, que não tem para onde correr quando vem um vendaval. E quero reiterar a vocês que o processo eleitoral não me fará mudar de comportamento, sobretudo nas questões econômicas - disse Lula

O presidente também defendeu a atual política de juros e cambial. Apesar das reclamações de empresários contra as altas taxas de juros, hoje em 19,75%, Lula voltou a dizer que não vai interferir nas decisões do Banco Central.

- A política monetária é da responsabilidade do Banco Central e ele vai cuidar sem que o presidente interfira. Porque na hora em que o presidente começar a interferir no Banco Central, não precisa ter mais Banco Central. Trago para minha sala e eu determino as coisas - disse Lula, enfático.

Lula também disse que numa política de câmbio flutuante é normal que a moeda oscile para baixo ou para cima. E que o equilíbrio do câmbio (o valor do real em relação ao dólar) será conquistado sem sobressaltos. Diante de empresários, o presidente reconheceu que há setores contrariados com o fato de o dólar estar desvalorizado, o que seria ruim para os exportadores.

- Esse câmbio vai chegar ao ponto de equilíbrio, mas sem que a gente pratique nenhum estupro em nome de algum desejo momentâneo - afirmou Lula.

O presidente ainda disse que não poderia "cometer um gesto de insensatez eleitoral" e aceitar o salário-mínimo de R$384. Para ele, desde 2004, o governo, com a ajuda dos empresários, vem conseguindo reduzir as amarras severas da economia para garantir um crescimento sustentável.

Legenda da foto: LULA COM O presidente da Fiesp, Paulo Skaf: "Processo eleitoral não me fará mudar de comportamento"