Título: O DILEMA DO PETISTA PARA 2006
Autor:
Fonte: O Globo, 26/08/2005, O País, p. 5

Presidente angustia-se com a dúvida de disputar ou não a reeleição ano que vem

BRASÍLIA.No discurso que fez ontem no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou explicitando uma angústia que passou a viver nas últimas semanas: disputar ou não a reeleição. Por isso, ele criticou a antecipação do processo eleitoral de 2006. Apesar de Lula negar que esteja discutindo o tema, em conversas reservadas ele chegou a expor sua agonia em relação às eleições. Falou de suas dificuldades no encontro com os chefes dos poderes, e voltou ao tema ontem no encontro com os empresários do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). A preocupação com a reeleição ficou aguda depois das recentes pesquisas que apontam queda acentuada em sua popularidade.

- Lamentavelmente, me parece que as eleições de 2006 tiveram uma antecipação. Sempre achei que era prudente só discutir a questão eleitoral no momento necessário, e há tempo para isso. Minha prioridade nunca foi a reeleição, mas a governança deste país - disse.

Segundo os auxiliares mais próximos, Lula está numa encruzilhada. Fatores concretos pesam para que ele não seja candidato. O presidente voltou a externar nos últimos dias que só tentará a reeleição se tiver certeza de poder fazer muito mais no segundo mandato do que no primeiro. Lula tem feito avaliações de que também não entrará na disputa se tiver que fazer concessões exageradas aos aliados. Lula acredita que precisaria da certeza de que teria mais liberdade para tomar decisões.

Recentemente, um dos fatos que motivaram Lula a disputar a reeleição foi uma declaração do ex-presidente Fernando Henrique. Lula ficou contrariado quando Fernando Henrique disse que ele precisava proclamar que não era mais candidato a reeleição para acalmar o país. Segundo assessores, no discurso de ontem Lula respondeu de forma indireta ao que chamou nos bastidores de "provocação" do ex-presidente.

O tom do discurso de ontem foi decidido num rompante. Lula, segundo ministros, se emocionou e se entusiasmou com as intervenções de quatro integrantes do CDES. O presidente também inovou ao usar na lapela um broche com a imagem de Nossa Senhora Aparecida que ganhou de um visitante.

Lula vinha se queixando que "se sentia abafado" e de que gostaria de dizer muito mais, mas que tinha que pensar na responsabilidade de presidente. Antes dele, quatro conselheiros falaram sobre a crise, cobraram providências do governo, mas manifestaram confiança no presidente. Um dos mais contundentes foi o representante do Instituto Ethos, Ricardo Young Silva, que cobrou explicações diretamente a Lula:

- A democracia brasileira chora. Chora porque há uma percepção de que as pessoas que deveriam ser guardiãs das instituições falharam no cumprimento do dever - disse Young.

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Legenda da foto: LULA EXIBE broche de Nossa Senhora Aparecida na lapela