Título: Onze fundos de pensão têm sigilo quebrado
Autor: Adriana Vasconcelos/Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 26/08/2005, O País, p. 11

Parlamentares querem saber se corretagem de investimentos no BMG e no Rural serviu de garantia de empréstimos

BRASÍLIA. Em busca da origem do dinheiro que foi repassado pelo empresário Marcos Valério a políticos do PT e da base aliada do governo no Congresso, as CPIs dos Correios e do Mensalão aprovaram ontem a quebra do sigilo de operações feitas por 11 fundos de pensão, a maior parte deles ligada a estatais.

Na CPI do Mensalão, numa reunião em que foram votados apenas os requerimentos que eram consenso entre seus integrantes, foi quebrado o sigilo bancário de oito fundos: Geap (servidores públicos federais), Funcef (Caixa Econômica), Previ (Banco do Brasil), Sistel (companhias telefônicas), Petros (Petrobras), Real Grandeza (Furnas), Portus (Companhia Docas) e Centrus (Banco Central).

Já a CPI dos Correios, que anteontem aprovara a quebra do sigilo das operações de investimento de Petros, Geap e Funcef nos bancos Rural e BMG, ontem ampliou a devassa, aprovando a quebra parcial dos sigilos de mais sete fundos: Centrus, Real Grandeza, Eletros (Eletrobrás), Serpros (Serpro), Postalis (Correios), Portus e Previ.

O BMG e o Rural são as instituições financeiras de onde Valério diz ter retirado os R$55 milhões para repassar a parlamentares petistas e seus aliados.

Os dirigentes dos fundos Previ, Petros e Funcef, que anteontem foram voluntariamente à CPI do Mensalão, devem voltar quarta-feira à comissão. Na conversa a portas fechadas que tiveram com os parlamentares, Sérgio Rosa, presidente da Previ, Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente da Petros, e Guilherme Lacerda, presidente da Funcef, disseram que todas as operações foram legais e feitas dentro dos padrões de mercado.

Do começo do governo até agora, a Petros investiu em fundos de investimentos de direitos creditórios R$80 milhões no BMG e R$5,5 milhões no Rural, e outros R$10 milhões em Certificados de Depósito Bancários (CDBs) do Rural, o que representa 0,4% do patrimônio total da fundação.

Segundo Rosa, a Previ investiu cerca de R$60 milhões em 2004 nos dois bancos. Ele garantiu que as aplicações já foram vencidas e pagas.

Os integrantes da CPI dos Correios suspeitam que a corretagem cobrada pelos investimentos possa ter servido de incentivo, garantia ou como parte do pagamento dos empréstimos dados a Valério. Eles classificaram também a ida dos diretores dos fundos à CPI do Mensalão como uma manobra para esvaziar as investigações e tentar justificar os investimentos feitos nos dois bancos.

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), cotado para assumir a sub-relatoria dos fundos na CPI, quer investigar também as operações feitas pelas instituições com títulos pós-fixados.