Título: APENAS TER EMPREGO NÃO BASTA PARA TIRAR PESSOAS DA LINHA DA POBREZA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/08/2005, Economia, p. 24

Quase 25% dos empregados ganham menos do que US$1 por dia

A privação e a pobreza extrema afligem não apenas os indivíduos excluídos do mercado de trabalho. O relatório divulgado pela ONU ontem mostra que, no mundo inteiro, metade das pessoas que trabalham vive com menos de US$2 por dia. São 1,39 bilhão de pessoas nessa situação. E quase um quarto dos que têm algum tipo de ocupação está abaixo da linha de pobreza extrema, ou seja, sobrevivendo com até US$1 ao dia.

- A situação é preocupante quando se constata que mesmo quem tem emprego, ainda que na maioria das vezes trate-se de emprego informal, vive na pobreza - diz Roberto Guimarães, principal autor do estudo.

Para ONU, trabalho informal está ligado à pobreza

Na casa de Fabiana Vieira da Silva, em Queimados, o emprego de sua mãe não consegue tirar a família da pobreza. Como Fabiana não encontra vaga no mercado de trabalho desde fevereiro, a família vive do salário-mínimo da mãe, que é empregada doméstica. São três pessoas (Fabiana, a mãe e a irmã) e R$300 por mês. Ou seja, menos de US$2 ao dia para cada um.

- Minha maior preocupação é arrumar um emprego para poder pagar uma faculdade - diz Fabiana, de 22 anos, que busca uma vaga como vendedora de loja.

O relatório da ONU associa a pobreza no mercado de trabalho à informalidade. E estima que na América Latina e Caribe 51% dos trabalhadores são informais. No Brasil, segundo pesquisa do economista João Saboia, da UFRJ, a informalidade alcança entre 48% e 58% dos trabalhadores.

O economista critica o argumento de quem vê na educação a única saída para melhorar o emprego, frente a uma abertura comercial que exige mão-de-obra qualificada.

- A educação é importante, mas só isso não resolve. Nos últimos 20 anos, a escolaridade do brasileiro deu um salto. E os empregos ruins, que eram ocupadas por pessoas de baixa instrução, continuam ruins, e agora são ocupados por trabalhadores de alta qualificação - diz Saboia. (Luciana Rodrigues)

Legenda da foto: RENDA 'PER capita' da família de Fabiana Silva é menor que US$2 ao dia