Título: EDUCAÇÃO, SAÚDE E VIOLÊNCIA FAZEM BRECHA AUMENTAR
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/08/2005, Economia, p. 24

Pesquisa mostra que abismo social não se limita ao rendimento

A pesquisa da Organização das Nações Unidas divulgada ontem sobre a desigualdade mundial não se resume apenas à diferença de renda entre pobres e ricos. Pela primeira vez, um estudo global sobre o tema discute, entre os indicadores de desigualdade, aspectos como violência e acesso a serviços sociais básicos.

Um dos pontos-chave, segundo o relatório da ONU, é o acesso à educação. Ela indica o tamanho do abismo social e ao mesmo tempo pode ser uma porta de saída para a desigualdade.

- No Brasil, a educação responde por 50% da desigualdade. A diferença média de salário entre uma pessoa com curso superior e uma sem nenhum estudo é de 814% - disse o economista Gustavo Ioschpe, autor do livro "A educação custa um mundo".

Segundo ele, para usar a educação como elemento transformador da sociedade será preciso universalizar o acesso ao ensino superior de qualidade.

- O Brasil tem hoje uma taxa de matrícula de 16% no ensino superior. Na Argentina e no Chile essa proporção já chega a 40%.

Envelhecimento da população é novo desafio

A ONU também vê a violência urbana como efeito - e causa - da desigualdade. Para Ignacio Cano, professor do Laboratório de Análise da Violência, da Uerj, o fenômeno provoca um círculo vicioso.

- A violência nas regiões mais pobres provoca desestruturação social, que provoca mais pobreza e mais violência - argumentou.

Cano afirma que o problema deve ser combatido a curto prazo com melhorias na qualidade do policiamento e da investigação criminal. Mas, sem políticas sociais de longo prazo, que reduzam a desigualdade, o problema não terá solução.

O acesso a serviços de saúde é outro tema abordado pelo relatório das Nações Unidas, pois afeta não apenas a qualidade de vida, mas a produtividade social. Os últimos avanços da América Latina para melhorar a expectativa de vida e reduzir a mortalidade infantil têm dado resultado, mas criam novos desafios para o futuro.

- À medida que a população envelhece, o custo da assistência de saúde aumenta. E temos de estar preparados para lidar com isso - alerta Martín Hopenhayn, especialista da Divisão de Desenvolvimento Social da Cepal, em Santiago, Chile.