Título: ONU: abertura de mercado aumenta distância entre países ricos e pobres
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/08/2005, Economia, p. 24

Estudo diz que globalização deu prioridade a interesses dos mais desenvolvidos

A abertura comercial e a liberalização financeira das últimas décadas não apenas ampliaram a distância entre os países mais ricos e mais pobres, como também acirraram as desigualdades internas nas nações em desenvolvimento. Para a ONU, essas foram as conseqüências perversas de uma globalização que priorizou os interesses dos países ricos. "As teorias econômicas sugerem que uma maior integração entre os países levaria a uma convergência nos níveis de renda. Evidências refutam essa premissa", afirma o relatório, para em seguida completar:

"A agenda global está dominada por temas como livre comércio e propriedade intelectual (...) Mas estão ausentes temas de importância para países em desenvolvimento, como a mobilidade da mão-de-obra".

Para Roberto Guimarães, principal autor do relatório, assim como ocorreu com a política ambiental no século passado - quando multinacionais fugiam das severas leis dos países ricos para poluir nos países em desenvolvimento - agora há uma disputa perversa por redução de custos trabalhistas.

Abertura multilateral seria mais benéfica para pobres

Marta Castilho, professora da UFF e pesquisadora do Ipea, afirma que o impacto da abertura comercial depende do padrão de exportação e, também, da estrutura fundiária de cada país. No caso do Brasil, em que os maiores exportadores são os grandes produtores rurais, um aumento de exportações por si só não significa melhora na distribuição de renda. Mas ela acrescenta que o comércio é uma fonte importante para o aumento na renda nacional. Esse ganho poderia ser usado depois para financiar políticas de combate à desigualdade.

O relatório da ONU destaca que, para os países mais pobres, o melhor é que abertura comercial ocorra no âmbito multilateral. Uma negociação deste tipo proporcionaria um ganho de renda de US$263 bilhões ao mundo, dos quais US$109 bilhões seriam apropriados pelos países em desenvolvimento. É menos da metade, porém trata-se de um cenário mais favorável do que uma abertura realizada via acordos bilaterais. Neste caso, haveria um aumento de renda de US$112 bilhões para o mundo, mas à custa de uma perda de US$21 bilhões dos países em desenvolvimento.

O texto da ONU também critica a resistência dos países ricos em abrir seus mercados nos setores em que as nações em desenvolvimento são mais competitivas. Enquanto as importações entre as nações ricas pagam um imposto de só 1%, a tarifa média sobre produtos agrícolas é de 9% nos EUA e de 20% na União Européia.

inclui quadro: conheça as disparidades