Título: KRUGMAN CRITICA ALTA TAXA DO BRASIL
Autor: Aguinaldo Novo/Martha Beck/Ênio Vieira
Fonte: O Globo, 26/08/2005, Economia, p. 25
Para economista americano, Selic em 19,75% ao ano afeta expansão do país
CAMPOS DO JORDÃO (SP). Em palestra a cerca de 700 executivos do mercado financeiro, o economista americano Paul Krugman criticou ontem a política monetária do governo Lula, dizendo que "não faz sentido" manter os juros em patamares tão elevados por muito tempo. Isso pesa sobre o potencial de crescimento da economia, cuja expansão nos últimos anos tem sido "desapontadora e insuficiente para reduzir a desigualdade social".
- É difícil entender por que os juros (no Brasil) são tão altos. Não faz sentido manter isso. Os juros têm de cair logo, porque uma taxa real (acima da inflação) superior a 10% não é realista - disse Krugman, na abertura do 2º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, organizado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) em Campos do Jordão, interior paulista.
Um dos mais respeitados economistas dos EUA e professor de Economia e Assuntos Internacionais na Universidade de Princeton, Krugman defendeu uma aceleração no ritmo de corte da Selic para 8% a 10% reais (acima da inflação), segundo ele, patamar aceitável para países em desenvolvimento como o Brasil. Hoje, a taxa real é de 14%,1. Ele não acredita que isso provoque um repique da inflação:
- Não há razão para se caminhar tão devagar.
América Latina vive 'momento de perda de fé'
Perguntado se a decisão do Banco Central de manter a Selic em 19,75% ao ano significaria cautela em relação à crise política, Krugman foi diplomático. Ele disse que ficou surpreso, mas "não o bastante para achar que havia alguma coisa":
- Não quero dizer que não haja risco político, mas ainda não estou tão certo disso.
Krugman afirmou que os esforços fiscal e monetário dos últimos anos tornaram o Brasil mais resistente a choques externos, mas não são garantia de desenvolvimento sustentado:
- Estou desapontado porque há crescimento, mas ele não é espetacular.
Segundo ele, o Brasil e a América Latina vivem um "momento de perda de fé" em suas estratégias de desenvolvimento, diante da frustração da política de liberalização dos mercados, cujos benefícios não chegaram à maioria da população.
Em sua avaliação, a crise política dificulta a implementação de políticas visando a uma melhor distribuição de renda. Sobre a possibilidade de impeachment de Lula, ele afirmou que os mercados acreditam na manutenção da atual política econômica, independentemente de nomes.
Krugman também se mostrou pouco otimista sobre a economia mundial. Ele disse que "não ficará surpreso" se nos próximos três anos houver uma nova crise no fluxo de capitais, como efeito da explosão das bolhas de consumo e imobiliária nos EUA, o que levaria o país a desvalorizar o dólar:
- Não creio que será tão terrível quanto a crise asiática (em 1997/98), mas há perigos que ainda desconhecemos. Vamos passar por um período de turbulência nos próximos anos.
A boa notícia, segundo ele, é que os emergentes estão mais bem preparados para enfrentar a crise, graças ao equilíbrio de suas contas externas.
www.oglobo.com.br/especiais/derivativos