Título: BC INDICA QUE JUROS AGORA VÃO COMEÇAR A CAIR
Autor: Aguinaldo Novo/Martha Beck/Ênio Vieira
Fonte: O Globo, 26/08/2005, Economia, p. 25

Ata do Copom aponta para redução da taxa básica a partir de setembro e mercado já aposta em corte de 0,5 ponto

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) indicou ontem que podem começar em setembro os cortes na taxa básica de juros (Selic), mantida há três meses em 19,75% ao ano. Os analistas de mercado já acreditam numa queda de 0,5 ponto percentual no próximo mês, de acordo com pesquisa semanal do BC. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) classifica como benigno o cenário para a inflação e não traz mais a referência feita em meses anteriores de que os juros ficariam estáveis por um período suficientemente longo, até que a inflação se aproximasse das metas de 5,1% em 2005 e de 4,5% em 2006.

Segundo a ata, o Copom trabalhou na reunião da semana passada com uma probabilidade maior de reajuste no preço da gasolina. É o principal risco inflacionário do documento - embora tenha sido mantida a projeção de estabilidade nos preços de combustíveis e do gás de botijão ao longo de 2005. Os diretores analisaram que o mercado de petróleo aponta para a estabilização das cotações mais altas em níveis mais elevados do que se previra. A Agência Nacional do Petróleo calculou em 30% a defasagem entre os preços internos e externos da gasolina.

O BC reduziu sua projeção de aumento das tarifas de telefone em 2005 de 6,5% para 6,1%, e a estimativa de reajuste na energia residencial ficou estável em 8,2%. A tendência de queda se deve à deflação do IGP-DI, que corrige as tarifas de telefone. Segundo a ata, a inflação de julho apresentou apenas pressões dos preços administrados e cenário favorável para os preços livres, como os de alimentos.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que a ata do Copom mostra o êxito do governo no combate à inflação. Até maio, os analistas de mercado duvidavam que a inflação este ano fechasse abaixo de 6%. O secretário não fez projeções sobre a trajetória da taxa de juros a partir do mês que vem, mas destacou que, se houver demanda de investidores por títulos prefixados, significa que o mercado financeiro aposta na queda das taxas já em setembro.

Pelos cálculos do Copom, a projeção oficial do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continua acima da meta de 5,1% para este ano, mas sofreu recuo em relação à reunião de maio. A previsão foi realizada com o dólar cotado a R$2,35 em agosto, o mesmo nível do mês anterior. Para 2006, a estimativa oficial do IPCA feita pelo BC está abaixo da meta de 4,5%, o que indica espaço para queda dos juros. Com a inflação dentro das metas, a preocupação do Copom passa a ser o ritmo de cortes da taxa básica e o efeito sobre o crescimento econômico.

A ata diz ainda que há sinais de aquecimento da economia, com a elevação de investimentos e da importação de máquinas e equipamentos. O documento mostra que o uso da capacidade instalada chegou a 82,8%. Além disso, a exportação tem contribuído mais fortemente para a expansão da economia do que se imaginava no início do ano.

Ontem, em São Paulo, os economistas Sérgio Werlang e Paulo Leme avaliaram que o ritmo do corte de juros ainda será moderado.

- Não entendi porque o corte já não veio este mês. Todos os indicadores apontam para a trajetória firme de queda inflação - disse Werlang.

Ambos defendem a necessidade de aumento da meta de superávit primário, fixada em 4,25% do PIB para 2006 e 2007. Leme prega uma meta de 5% ou mais, desde que não venha do aumento de impostos e sim da redução de gastos públicos. Ele criticou o fato de governo estimular o consumo através da oferta de crédito e manter os juros altos.

- O governo enfia o pé no acelerador e depois puxa o freio de mão. O efeito disso é uma performance de crescimento muito pouco satisfatória.

COLABOROU Aguinaldo Novo

'Continua se configurando, de maneira cada vez mais definida, um cenário benigno para a evolução da inflação'

TRECHO DA ATA DO COPOM