Título: CRUZ VERMELHA TRATOU DE REBELDES IRAQUIANOS
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 26/08/2005, O Mundo, p. 30

Condição foi imposta para salvar reféns italianas

BAGDÁ. A Cruz Vermelha italiana tratou quatro supostos terroristas iraquianos em seu hospital em Bagdá e os escondeu das forças americanas em troca da libertação de duas reféns italianas, seqüestradas no ano passado.

Maurizio Scelli, comissário da Cruz Vermelha italiana que está deixando o cargo, disse que ocultou o fato dos americanos devido a uma condição imposta por mediadores iraquianos que ajudaram na libertação de Simona Pari e Simona Torretta, funcionárias da organização humanitária Ponte para Bagdá, seqüestradas em 7 de setembro de 2004 e libertadas 21 dias depois.

"Os mediadores nos pediram que salvássemos a vida de quatro supostos terroristas procurados pelos americanos e que foram feridos em combate", declarou Scelli ao jornal "La Stampa". "Nós os escondemos e os levamos a médicos da Cruz Vermelha, que os operaram."

Scelli disse que a decisão de esconder a operação dos americanos foi aprovada por Gianni Letta, subsecretário de Governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O governo italiano não negou conhecer o acordo, mas afirmou que a Cruz Vermelha atuou de forma independente.

O Parlamento iraquiano cancelou ontem uma reunião que faria na qual se esperava que se chegasse a um acordo sobre a proposta de Constituição do país. Segundo fontes, não foi possível chegar a um consenso com os árabes sunitas. Com isso, árabes xiitas e curdos decidiram ir direto para a votação, que seria realizada hoje. A medida irritou negociadores americanos.

Xiitas ligados ao clérigo Moqtada al-Sadr entraram em choque com outros xiitas, seguidores Abdul Aziz al-Hakim, chefe do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque. Os choques começaram em Najaf, onde a sede do movimento de Sadr foi destruída e cinco pessoas morreram, e se espalharam para subúrbios de Bagdá. Ontem à tarde, os dois lados pediram calma a seus seguidores.

Um comboio da Presidência iraquiana foi atacado ontem e dois seguranças foram mortos. O presidente Jalal Talabani não estava no comboio.

Legenda da foto: SIMONA PARI e Simona Torretta chegam à Itália, ao lado de Scelli: governo italiano sabia da negociação