Título: BÔNUS-BANVAL DIZ QUE RECEBEU O DOBRO DO QUE DECLARA VALÉRIO
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 27/08/2005, O País, p. 5

Segundo depoimento de sócio da corretora à PF, repasse foi de R$6,5 milhões, e não de R$3,5 milhões

BRASÍLIA. Sócio da corretora Bônus-Banval, Enivaldo Quadrado desmentiu ontem a versão apresentada à CPI dos Correios pelo publicitário Marcos Valério de Souza. Enquanto o publicitário alegou ter repassado R$3,5 milhões à corretora, Quadrado afirmou em depoimento à Polícia Federal que o valor chegou a R$6,5 milhões.

Segundo Quadrado, a maior parte do dinheiro foi aplicada em barras de ouro. Os rendimentos teriam sido resgatados e transferidos, por operações bancárias, a beneficiários escolhidos por Marcos Valério. Essas pessoas ainda não foram identificadas pela corretora Bônus-Banval.

O depoimento do empresário à Polícia Federal ontem durou mais de seis horas. Quadrado revelou ainda que foi apresentado a Marcos Valério pelo deputado José Janene (PP-PR). O encontro aconteceu no ano passado, quando a Bônus-Banval passava por dificuldades financeiras. O publicitário teria demonstrado interesse em adquirir a corretora.

Por isso, Quadrado alegou ter se sentido na obrigação de agradar ao publicitário e, no período de seis meses, teria ¿feito o favor¿ de efetuar saques no valor de R$605 mil para Marcos Valério.

Empresário entregou cópia de movimentação financeira

O dinheiro, que teria sido retirado da sede do Banco Rural, em São Paulo, foi entregue ao publicitário, segundo Quadrado. Como Marcos Valério teria desistido de comprar a corretora Bônus Banval, a crise financeira da corretora teria resultado em seu fechamento, em setembro do ano passado.

Quadrado entregou aos policiais uma cópia da movimentação financeira comprovando os valores das operações com ouro. Os documentos passaram a integrar o inquérito que investiga a existência do mensalão, pagamento para deputados aliados do governo.

O sócio da Bônus-Banval prometeu enviar os nomes dos beneficiários dos resgates à Polícia Federal até a próxima quarta-feira.

Versão de Toninho da Barcelona fica enfraquecida

De acordo com o depoimento de Quadrado, o dinheiro foi investido pela empresa Natimar Negócios e Intermediações Ltda., que integrava a lista de clientes da Bônus Banval. Como a Natimar não tinha permissão para operar na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os investimentos em ouro eram feitos em nome da corretora.

Após o depoimento de Quadrado, a versão do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, de que a corretora Bônus Banval teria enviado dinheiro para o exterior a pedido do ex-ministro José Dirceu pode ter enfraquecido. Isso porque Quadrado teria apresentado documentos comprovando que a corretora não operava dessa forma.

A Polícia Federal acredita na veracidade de grande parte das informações prestadas pelo sócio da Bônus-Banval, já que a maioria delas foi subsidiada por documentos.