Título: CENTRO DA QUESTÃO
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Fonte: O Globo, 27/08/2005, Opinião, p. 6

Dizer que apenas o sistema eleitoral vigente é responsável pela crise é simplificar a questão. Governos sérios, diante da degeneração da representação popular, têm conseguido superar a pressão do fisiologismo e da corrupção. Mas quando se tem um parlamento com ponderável representação desta degenerescência e um governo que substitui o projeto de sociedade por um projeto de poder de um grupo, o resultado é o que se constata: desvio de recursos públicos para o partido, para campanhas eleitorais e para formação das alianças que sustentam o Poder Executivo.

O sistema eleitoral vigente não é o único responsável pela corrupção do sistema político, mas é fundamental. Sobre o processo de eleição dos executivos, pouco se pode fazer. Mas quanto à eleição dos deputados, é preciso agir. Qual é o cerne da questão? Hoje o deputado é uma entidade própria, o mandato é sua propriedade e o partido ao qual se filia não passa de um cartório de registro. Sua campanha não depende de ninguém. Ele é o presidente do comitê de campanha, tesoureiro, diretor operacional, diretor de marketing e tudo o mais.

A principal mudança a fazer é eliminar a eleição individualizada e os brutais custos de campanha. Defendo o sistema de listas partidárias. Estaríamos fortalecendo as oligarquias partidárias, que organizariam as listas com seus nomes ¿na cabeça¿? Hoje é pior. Os caciques partidários organizam suas legendas preservando suas áreas eleitorais. Constituem dobradinhas estaduais e têm acesso aos fundos partidários, usados para sua própria preservação. A diferença é que essas oligarquias se ¿escondem¿ na lista dos candidatos. Beneficiam-se dos votos dados aos candidatos que não se elegem. No sistema de listas partidárias, seus nomes terão de encabeçar a lista. E o eleitor saberá, ao votar no partido, quem elegerá. É mais transparente e representará melhor a vontade do eleitor.

ALBERTO GOLDMAN é deputado federal (PSDB-SP).