Título: ATENTADO À SEDE DA OAB NO RIO FAZ 25 ANOS HOJE
Autor:
Fonte: O Globo, 27/08/2005, O País, p. 13

Explosão de carta com explosivos matou a secretária da entidade

BRASÍLIA. Um dos mais emblemáticos episódios da ditadura militar completa hoje 25 anos: a explosão de uma bomba na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro. A autoria do atentado foi atribuída a grupos de direita contrários à redemocratização do país, mas até hoje não se chegou aos culpados. O único indiciado no inquérito, Ronald James Watters, foi absolvido por falta de provas.

No dia 27 de agosto de 1980, chegou à sede da OAB, à época no Centro do Rio de Janeiro, uma carta endereçada ao então presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes. A correspondência com explosivos foi aberta pela chefe da secretaria da entidade, Lyda Monteiro da Silva.

A explosão causou tremor no andar inteiro do edifício e Lyda, de 59 anos, morreu a caminho do Hospital Souza Aguiar. Os restos da mesa onde a carta foi aberta estão expostos hoje no Museu Histórico da OAB, em Brasília.

Entidade tentava localizar seqüestradores de jurista

O incidente ocorreu em um momento em que a seccional de São Paulo e o presidente nacional da entidade insistiam, por meio de uma campanha pública, na identificação de agentes e ex-agentes dos serviços de segurança suspeitos de torturar o jurista Dalmo Dallari, seqüestrado em julho do mesmo ano, em São Paulo.

Cerca de seis mil pessoas compareceram ao enterro de Lyda, que acabou servindo de palco para uma manifestação política. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence, que ocupava interinamente a presidência da OAB no dia do atentado, lembrou ontem do episódio com pesar:

¿ A partir daí, a sociedade civil tomou mais conhecimento, pôde se mobilizar mais e ver que os atentados não estavam somente direcionados aos que tinham optado pela resistência armada à ditadura, mas até a uma entidade como a OAB. Ninguém mais efetivamente tinha segurança.

A família de Lyda Monteiro tenta uma indenização do governo federal pelo crime. O caso está sendo analisado pela Comissão de Anistia.