Título: SERVIDORES ESTÃO NA MIRA DO MP E DA PF
Autor: Dimmi Amora e Maia Menezes
Fonte: O Globo, 27/08/2005, Rio, p. 17

Operação ¿Roupa Suja¿ deverá denunciar quem facilitou fraudes em contratos com governos

Depois da prisão de 11 pessoas durante a operação ¿Roupa Suja¿, anteontem, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal miram agora nos servidores federais, estaduais e municipais. De acordo com o procurador Carlos Alberto Aguiar, o MP deverá denunciar também funcionários públicos que estão envolvidos no esquema de corrupção.

¿ Pela investigação, sabe-se que há servidores. Eles foram, por exemplo, alvo do lobista, que foi preso. Não sabemos, ainda, se o lobby foi exclusivamente político ou se houve dinheiro envolvido. No mínimo, tiveram contato ¿ disse o procurador.

De acordo com investigadores que participaram da operação, servidores facilitaram a vitória nas licitações das empresas envolvidas. O mesmo ocorreu para os pagamentos de faturas atrasadas. As investigações apontam que houve facilitação para as empresas na Secretaria municipal de Saúde do Rio e nos laboratórios Farmanguinhos, do governo Federal, e Iquego, do governo de Goiás.

O secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, informou, por meio da assessoria, que a subsecretaria de Infraestrutura está fazendo um levantamento da situação contratual da Brasil Sul, empresa de Altineu Pires Coutinho, considerado o líder da quadrilha.

Empresário Altineu nega ter contas no exterior

Entre 2002 e 2005, a empresa de Altineu recebeu R$6,3 milhões em pagamentos pelo estado, de acordo com dados do Siafem pesquisados pelo deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB). A secretaria está pedindo, ainda, informações ao MP sobre a investigação. Já a secretaria municipal de Saúde informou que irá esperar o resultado das apurações para se pronunciar.

A operação demonstrou que os presos faziam parte de duas quadrilhas que fraudavam licitações para a compra de insumos usados na fabricação de remédios (principalmente do coquetel anti-Aids) e para a prestação de serviços de lavanderia a hospitais do Rio. Eles também são acusados de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Foram presos temporariamente nove empresários e lobistas no Rio, um empresário indiano em São Paulo e um ex-prefeito de Goiânia. Um suspeito está foragido. Altineu negou em depoimento as acusações. Ele disse inclusive que as contas no exterior em seu nome, não foram abertas por ele.

Mas, de acordo com a deputada Cidinha Campos (PDT), que teve acesso às informações da CPI do Banestado, ele e o sócio Vittorio Tedeschi, também preso, movimentaram pelo menos US$3,2 milhões entre 1998 e 2002. Altineu, pai do ex-secretário da Infância do Estado, Altineu Cortes, movimentou US$1,6 milhão. Uma delas é em Cayman, um paraíso fiscal.