Título: CRISE POLÍTICA E JUROS NÃO IMPEDEM INVESTIMENTO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 27/08/2005, Economia, p. 27

Sondagem da FGV aponta crescimento real de 18,2% nos recursos destinados para aumentar capacidade produtiva

A taxa de juros alta, o câmbio valorizado e a crise política compõem um cenário adverso para os investimentos. Apesar disso, segundo números da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgados ontem, a indústria prevê crescimento real de 18,2% no volume de recursos destinados a ampliar a capacidade produtiva este ano, em comparação com 2004. De acordo com a sondagem especial feita em julho com 710 empresas, essa parcela de empresários pretende investir R$45,51 bilhões na economia este ano.

¿ Esperávamos um desempenho menos favorável, depois do pessimismo captado entre os empresários na sondagem de julho. Mas parece que as expectativas piores são mais para o curto prazo. Para o investimento, o cenário é positivo ¿ disse Aloisio Campelo, economista da FGV.

Puxando o desempenho estão os setores mais voltados para exportação e os estimulados pelo crédito. As maiores taxas reais (descontado o efeito da inflação) são encontradas nos bens intermediários, grupo no qual se encontra a metalurgia, que projeta alta real no investimento de 59,5%.

No segundo e terceiros lugares da lista aparecem material elétrico e de comunicações (alta de 46,2%) e material de transporte (33,2%), grupos estimulados tanto pelas exportações como pelo aumento do crédito ao consumidor.

Volume está concentrado em máquinas e equipamentos

Segundo Armando Castelar, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), uma série de fatores explica esse ânimo renovado na indústria:

¿ Vamos para o segundo ano de crescimento seguido. Fato raro na História recente brasileira. O uso da capacidade da indústria está alto, as perspectivas para 2006 são positivas. Além disso, o cenário internacional é favorável e as empresas lucraram muito este ano. Estão com muito dinheiro para investir ¿ afirma Castelar.

Os dados da FGV vão ao encontro dos números de financiamento de máquinas e equipamentos do BNDES. A linha crédito para bens de capital sem rodas (que exclui tratores, caminhões etc) cresceu 92% de janeiro a julho, em comparação com o mesmo período do ano passado.

¿ O investimento está concentrado em máquinas e equipamentos, que compromete menos recursos das empresas. Projetos de novas plantas foram adiados ¿ disse Francisco Eduardo Pires de Souza, assessor da área de planejamento do BNDES.

E a sondagem da FGV também mostra isso. O único setor a projetar queda de recursos este ano é o de materiais de construção (-16,2%). Segundo o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Gomes de Almeida, os projetos protelados para 2006 podem ficar para 2007 por causa da crise:

¿ Essa incerteza afeta o investimento em novas plantas.

Mesma opinião tem o economista da Consultoria Tendências Guilherme Maia. Esse clima conturbado na política acontece no momento de decisões de investimento para 2006 e 2007. As denúncias que chegaram ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci (em agosto e, portanto, depois da sondagem), não devem agravar mais o cenário.

¿ O importante é a manutenção da política econômica. Sabemos que a substituição, se houver, será rápida. O que atrapalha é o clima de incerteza ¿ diz.

Para não perder espaço no mercado e manter a margem, a Cibratel S/A, indústria de papel e embalagem, concretiza investimento de US$4 milhões este ano para ampliar a produção e a produtividade:

¿ Com os preços estáveis, só é possível manter a margem cortando custos ¿ diz Ermelindo Bolfer Filho, diretor da empresa.