Título: COM NEGÓCIOS REDUZIDOS, DÓLAR SOBE
Autor: Patrícia Eloy
Fonte: O Globo, 27/08/2005, Economia, p. 27

Moeda fecha a R$2,403, em alta de 0,2%. Na semana, queda foi de 1,92%

Números negativos da economia americana e o receio de que o fim de semana traga novas denúncias de corrupção contra o governo Lula reduziram ontem os negócios no mercado financeiro brasileiro. Nem mesmo a expectativa de que o ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic) comece em setembro conseguiu trazer otimismo aos investidores. Cautelosos, muitos venderam ações para colocar no bolso os ganhos obtidos com a alta da véspera; outros optaram pela compra de dólares. Segundo analistas, em meio à crise política, o mercado ficou sem tendência definida, e, por isso, os aplicadores estão fazendo negócios ao sabor das notícias, atentos ao curtíssimo prazo.

A moeda americana, que chegou a subir mais de 1% durante o dia, fechou em ligeira alta de 0,21%, cotada a R$2,403. Na semana, porém, recuou 1,92%. Após subir 2,58% na véspera, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 1,12% ontem, mas, no acumulado da semana, registrou valorização de 1,69%. Ontem, apenas seis ações do Ibovespa ¿ índice que reúne os 55 papéis mais negociados da Bolsa ¿ encerraram o pregão em alta. Nos contratos de juros futuros mais negociados, com vencimento em janeiro de 2007, as taxas projetadas subiram de 18,04% para 18,11% ao ano.

Consultoria britânica: haverá mais volatilidade no mercado

Eduardo Coutinho, sócio da Plenus Gestão de Recursos, diz que, em meio à crise e ao temor de que novas denúncias surjam no dia-a-dia, os investidores optaram por fazer negócios de olho no curtíssimo prazo:

¿ Por isso, a alta de um dia acaba se transformando na queda do dia seguinte.

Essa também é a avaliação dos economistas da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), vinculada à revista ¿The Economist¿. Em relatório publicado ontem, chamado ¿Política brasileira: as falhas de Lula na gestão da crise¿, os economistas ressaltam a estabilidade econômica do país, mas dizem que o presidente foi fraco na administração do escândalo do mensalão. Eles afirmam que ¿investidores de longo prazo podem começar a temer a crise, já que os 15 meses até as eleições de 2006 devem ser altamente imprevisíveis. Investidores de curto prazo lidarão com a crise no dia-a-dia do mercado financeiro, onde deve ser esperar mais volatilidade¿.

O relatório ressalta ainda que ¿a confiança entre os investidores diretos e do mercado financeiro ¿ necessária para manter a economia estável e em ritmo de crescimento ¿ pode não resistir muito mais tempo a menos que o presidente retome iniciativa política¿.

Risco-Brasil sobe 0,97% e títulos da dívida caem

Ontem, investidores estrangeiros preferiram reduzir parte das aplicações em ativos brasileiros. O Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, recuou 0,20%, para 117,55% do valor de face. O A-Bond ¿ título com vencimento em 2018 que substituiu o C-Bond na operação de troca de títulos realizada em julho deste ano ¿ caiu mais: 0,49%, para 101,25% do valor de face. Com isso, o risco-Brasil avançou 0,97%, para 416 pontos centesimais.