Título: PROCESSO LIGA MÚLTIS A TRABALHO ESCRAVO INFANTIL
Autor:
Fonte: O Globo, 27/08/2005, Economia, p. 29

ONG acusa Nestlé, ADM e Cargill de comprarem cacau de fazendas que exploram crianças

PARIS e WASHINGTON. As multinacionais alimentícias Nestlé, Archer Daniels Midland (ADM) e Cargill estão sendo processadas por uma organização não-governamental (ONG) americana por comprarem cacau de fazendas africanas que exploram trabalho escravo infantil, informou ontem o jornal francês de negócios ¿Les Echos¿. A International Labor Rights Fund (ILRF), com sede em Washington, entrou com o processo na Justiça americana em nome de três crianças malinesas que afirmam ter sido seqüestradas para trabalhar na Costa do Marfim.

As crianças, protegidas por pseudônimos no processo, foram forçadas a trabalhar de 12 a 14 horas por dia, sem pagamento, com pouca comida e surras freqüentes.

¿É inconcebível que Nestlé, ADM e Cargill tenham ignorado alertas repetidos e bem documentados, nos últimos anos, de que as fazendas usavam, nas plantações de cacau, crianças em trabalho escravo¿, disse a advogada da ILRF, Natacha Thys, em nota divulgada pela ONG.

No processo, a ILRF afirma que a ação não podia ser apresentada na Justiça da Costa do Marfim porque esta é ¿notoriamente corrupta¿.

As empresas citadas no processo afirmaram que vão lutar na Justiça. Um porta-voz da Nestlé disse ao site FoodNavigator.com que a companhia está confiante de que vai ganhar.

Empresas trabalham em certificação para o setor

Segundo o site especializado Food Production Daily, cerca de 70% do mercado global de cacau, que movimenta 3,6 bilhões de euros (R$10,4 bilhões), vem da África Ocidental.

A ILRF também lamentou que as empresas não tenham cumprido o prazo previsto para se adequarem ao protocolo Harkin-Engel, que prevê a erradicação das piores formas de trabalho infantil. O prazo expirou em 1º de julho. O protocolo foi assinado em 2001 por representantes da indústria de cacau e chocolate, Nestlé, ADM e Cargill entre elas. As empresas asseguram, porém, que estão trabalhando para cumprir as exigências do acordo, criando uma certificação para o setor.