Título: FH lidera escolha do candidato tucano em 2006
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 28/08/2005, O País, p. 13

Serra e Alckmin movimentam-se cada vez mais intensamente pela chance de disputar a Presidência

SÃO PAULO. Escalar o candidato do PSDB para o jogo sucessório de 2006 está, ao menos em parte, nas mãos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para isso, o mais graduado tucano assumiu o comando político-eleitoral do partido e entra cada vez com mais freqüência em campo para jogar em duas frentes: neutralizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contemporizar a disputa que joga para lados opostos o prefeito paulistano José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que se movimentam em torno da candidatura ano que vem.

Essa segunda tarefa, inclusive, tem sido a que mais ocupa a agenda do ex-presidente. Em meio a telefonemas, encontros oficiais e jantares em seu novo apartamento, na Rua Rio de Janeiro, no bairro de Higienópolis, Fernando Henrique cumpre maratona para fazer o partido tomar a melhor posição possível no cenário de crise.

A preocupação do ex-presidente, entretanto, tem sido em relação aos ânimos que envolvem as possíveis candidaturas de Serra e Alckmin, principalmente depois do resultado das pesquisas de opinião, que deixam o prefeito de São Paulo com maiores chances de bater Lula em 2006. Na simulação, Serra obteria 44% dos votos, contra 35% de Lula. Alckmin teria oportunidade mais reduzidas: apenas 11%, contra 32% de Lula.

- Depois dessa pesquisa, ele (Fernando Henrique) tem agido como um bombeiro para apagar o fogo entre Serra e Alckmin - diz um amigo do ex-presidente que prefere o anonimato.

Cúpula tucana evita comemorações públicas

Por conta das rusgas do prefeito com o governador, a cúpula tucana evita comemorações públicas. A preferência do eleitor por Serra não tem simpatizantes no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

- Alckmin demonstrou publicamente interesse em presidir o país, mas a direção do partido, embora negue, não vai e nem pode desconsiderar o bom desempenho de Serra nas pesquisas - diz um interlocutor do PSDB de São Paulo, para quem Fernando Henrique é fundamental para "reduzir traumas".

O trauma a que se refere o dirigente tucano é decorrente da articulação da campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo. A candidatura do secretário de Segurança Saulo de Castro Abreu Filho, indicado por Alckmin, não resistiu aos primeiros resultados das pesquisas. De lá para cá, Serra e Alckmin disputam um duelo em torno do apoio da direção nacional.

O governador de Minas, Aécio Neves, que também articula candidatura, diz que antes de escolher o nome o partido deve manter a unidade interna.

- Esta não é a hora de discutir candidaturas. E é claro que na hora certa o governador de Minas também deve ser lembrado - disse Aécio quinta-feira, antes de jantar com o Fernando Henrique.

Ex-presidente não está descartado para a disputa

Filho de FH diz que pai quer apenas 'influenciar processo'

SÃO PAULO. A hipótese de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso trabalhar seu próprio nome para 2006 não é totalmente descartada entre líderes do PSDB. No entanto, o filho do ex-presidente, Paulo Henrique Cardoso, descarta a possibilidade de o pai ser candidato. Para ele, Fernando Henrique só tentaria uma nova eleição dentro de um projeto de "salvação nacional".

- O que meu pai quer é influenciar no processo sucessório. Ele somente sairia candidato se fosse um projeto de salvação nacional. Se o país estivesse um caos e não houvesse qualquer outro candidato, o que não é caso. Aos 74 anos, meu pai não está disposto a enfrentar uma desgastante campanha eleitoral - argumenta Paulo Henrique.

Denúncias fazem Fernando Henrique preferir bastidores

A interlocutores, Fernando Henrique não esconde que prefere agir nos bastidores, embora não se negue a dar palestras e entrevistas nas quais tem criticado duramente o PT e o governo Lula.

- O PT não sabe governar, mas é bom para fazer oposição. Por isso, todo cuidado é pouco - argumenta um dirigente nacional do PSDB.

Possível postulante de uma candidatura à Presidência, o governador Aécio Neves não descarta também o nome do ex-presidente.

- O PSDB tem o privilégio de ter diversos nomes (para a disputa de 2006). Eu, por exemplo, vou agora experimentar o bom vinho de alguém que, ao meu ver, é extremamente qualificado para esse enfrentamento - disse Aécio antes do jantar com Fernando Henrique.

Deputado não exclui ex-presidente da disputa

O deputado federal Alberto Goldman (SP) também não exclui a participação de Fernando Henrique Cardoso no processo sucessório. Segundo ele, o ex-presidente, "ao contrário de Lula", não governou "com base em mentiras".

- Certamente o presidente Fernando Henrique teria sucesso. Mas essa (a escolha do nome) não é uma discussão que entrou na pauta do partido ainda - afirmou o deputado tucano.

O próprio Fernando Henrique nega o interesse em disputar a eleição presidencial do ano que vem, ao mesmo tempo em que elevou o tom das críticas que faz contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Nas últimas semanas, o ex-presidente tem batido mais forte no seu sucessor, dizendo estranhar o fato de que Lula não soubesse das irregularidades e afirmando que o governo está paralisado em função das denúncias. (Flávio Freire)