Título: SEM EXPORTAÇÕES, PIB PODERIA ATÉ CAIR EM 2005
Autor: Eliane Oliveira/Ênio Vieira
Fonte: O Globo, 28/08/2005, Economia, p. 29

Vendas externas são a locomotiva da economia do país: projeções de saldo comercial já passam dos US$ 40 bi

BRASÍLIA. Contrariando as expectativas do início deste ano, as exportações serão a grande locomotiva da economia em 2005, repetindo o impacto que tiveram nos dois anos anteriores. Com o mercado interno rateando - afetado pelos juros altos e pelo baixo investimento público - especialistas estimam que, sem as vendas externas, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) ficaria entre 1% e 2%, podendo até ser negativa, nas contas da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex). Seria um resultado ainda mais decepcionante do que os 3% a 4,2% de que se fala atualmente, no mercado e no governo.

Uma das maiores provas do vigor das vendas externas é a atual projeção de superávit comercial (diferença entre exportações e importações), que já ultrapassa, em diversos casos, a casa dos US$40 bilhões. O número contrasta com as previsões de menos de um ano atrás. No encerramento de 2004, pensava-se que, finalmente, o mercado interno seria o responsável pelo crescimento da economia. As previsões apontavam para superávit de apenas US$15 bilhões, já que, com o mercado doméstico aquecido, as importações iriam disparar.

Alta das 'commodities' alterou cenário exportador

Ninguém esperava que uma combinação de fatores alteraria significativamente o cenário para nossas exportações. Entre outras razões, o reajuste do preço do minério de ferro foi de 71,5%. A expectativa era um aumento em torno de 20%. A cotação da soja, em dezembro do ano passado, estava em US$190 a tonelada, mas a safra brasileira foi vendida a US$240. As projeções quanto à China eram as mais pessimistas possíveis. Todos achavam que o país asiático cresceria menos em 2005, reduzindo importações. Os chineses continuam a todo vapor.

No fim de 2004, as perspectivas em relação aos juros americanos também não eram nada boas. Mas o ajuste nos EUA foi lento e sem sobressaltos. O Brasil vivia ainda sob a ameaça de novas salvaguardas pela Argentina, um de seus principais parceiros comerciais, que também não se concretizou.

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