Título: TCU DIZ QUE BANCO DO BRASIL SONEGA DADOS
Autor: Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 29/08/2005, O País, p. 3

Dificuldade para receber informações estaria atrapalhando trabalho da CPI dos Correios

BRASÍLIA. Enquanto tenta descobrir a origem dos recursos repassados pelo empresário Marcos Valério de Souza a políticos do PT e aliados, a CPI dos Correios encontra dificuldades dentro e fora do governo para ter acesso a documentos e contratos, inclusive de empresas estatais. Relatório feito pelos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), responsáveis por analisar contratos da empresa de Valério com o Banco do Brasil, narra as dificuldades com o banco, que, nas palavras dos técnicos, tem passado informações a conta-gotas e feito triagem no material.

Funcionários do Banco do Brasil não colaboram com auditoria

Ao verificar o contrato da DNA Propaganda com o Banco do Brasil, que aumentou em 59% seus gastos com publicidade entre 2003 e 2004, os técnicos do TCU não tiveram acesso a toda a documentação. Seu relatório mostra que, apesar do percentual maior de investimentos em publicidade - acima inclusive do que o promovido por concorrentes como o Itaú e o Bradesco - funcionários do banco teriam oferecido resistência a auditoria dos gastos que subiram de R$336 milhões, em 2003, para R$555 milhões no ano passado. O número de 2003 já representava um crescimento em relação ao ano anterior, R$289 milhões.

No documento, os auditores do TCU afirmam que, apesar da disponibilidade mostrada pelos executivos da área de marketing do BB, os protocolos começaram a ser entregues "a conta-gotas, transmitindo a certeza de que estavam passando por um exame completo antes de serem disponibilizados à equipe" de auditoria. A direção do banco alega que está atendendo às demandas de três CPIs, do TCU, da Controladoria-Geral da União e nega resistência:

- Nosso relacionamento sempre foi bom. Estivemos ontem na CPI e hoje com o pessoal do TCU. A coisa já foi esclarecida. É uma premissa do presidente do Banco do Brasil darmos toda a documentação necessária para esclarecer os fatos - afirma o diretor de marketing do banco, Paulo Rogério Caffarelli.

Ele explicou que, embora o banco seja uma sociedade de economia mista, está sujeito a lei que regulamenta o mercado de capitais:

- Temos responsabilidade com a Comissão de Valores Mobiliários. Não é 100% da informação que pode ser repassada. Em determinados momentos, o departamento jurídico vai decidir o que pode ser mandado ao TCU. Temos compromisso de sigilo comercial.

Caffarelli, que assumiu a diretoria em julho, informou que foi instaurada uma auditoria interna para apurar o motivo do aumento de gastos com publicidade em 2004.

Hoje, vence o prazo também para os bancos que ainda não terminaram de prestar informações e as companhias telefônicas que não forneceram os dados referentes a sigilo telefônico quebrado pela CPI.

- Se não forem prestadas as informações, teremos de pedir à Anatel e ao Banco Central que abram fiscalizações nestes bancos e empresas. A paciência é santa. Mas a indignação também - afirmou ontem o subrelator responsável pelo assunto, Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Integrantes da CPI travam queda-de-braço nos bastidores

Mas as dificuldades com bancos e empresas de telefonia não são as únicas enfrentadas pela CPI. Os integrantes da comissão travam uma queda-de-braço nos bastidores que provoca avanços e recuos nas investigações. Após receber a atribuição de cuidar das movimentações financeiras e do acesso aos documentos, os tucanos Fruet e Carlos Sampaio (SP) estão preocupados com o resultado do trabalho. Temem que as dificuldades no acesso aos documentos prejudiquem as investigações.

Na semana passada, eles fizeram um périplo por TCU, Correios e Anatel em busca das informações solicitadas. Sampaio chegou a fazer uma advertência ao presidente dos Correios, Jânio Pohren:

- A CPI não requer, requisita. E quem não cumpre está sujeito ao crime de desobediência e pode ser preso.

Legenda da foto: O DEPUTADO GUSTAVO Fruet: "A paciência é santa. Mas a indignação também"