Título: No gabinete da crise, trabalho dobrado para alguns ministros
Autor: Ilimar Franco/Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 29/08/2005, O País, p. 5

Grupo se reúne todos os dias para avaliar os acontecimentos

BRASÍLIA. A crise mudou a rotina de um grupo de ministros que passaram a ser acionados diariamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles praticamente abandonaram suas agendas temáticas para passar a maior parte do dia no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete do presidente. O novo núcleo duro do governo, chamado de gabinete de crise, faz avaliações diárias dos acontecimentos, monitora a repercussão dos fatos e monta estratégias para enfrentar a crise.

O dia do gabinete da crise começa às 8h30min. Nesse horário, reúnem-se no Planalto os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Ciro Gomes (Integração Nacional), Jaques Wagner (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Eles preparam um informe dos temas mais importantes a serem tratados e sugerem procedimentos. Às 9h, Lula chega e os dados e providências são discutidos por pelo menos uma hora.

Reunião pode durar atéo meio da tarde

Nos momentos mais agudos da crise, como, por exemplo, nos dias de gravação de pronunciamentos em rede nacional de rádio e TV, ou dos depoimentos mais importantes nas CPIs, essa reunião pode durar até o meio da tarde.

- Somos chamados constantemente para reuniões no gabinete do presidente. Isso já era assim antes, nós nos reuníamos muito em função do funcionamento do governo, mas agora ficou muito mais intenso - afirma Jaques Wagner.

- Estou procurando ajudar e isso aumentou minha carga de trabalho. Para cumprir minha agenda tenho ficado no gabinete até a meia-noite - completa Ciro.

Foi nestas reuniões que o gabinete de crise decidiu que não era politicamente conveniente continuar o ataque ao presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), por causa das irregularidades no financiamento de sua campanha para o governo estadual em 1998. Os ministros e Lula chegaram à conclusão de que isso não ajudava o governo e radicalizava o ambiente político.

Ciro chegou a defender Azeredo publicamente

Ciro chegou a sair publicamente em defesa de Azeredo, após o tucano ter sido criticado pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

- Lula nunca achou que essa postura fosse correta - disse um dos ministros do gabinete da crise.

O dia do ministro da Justiça começa ainda mais cedo. Diariamente, às 8h, ele tem uma reunião com o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, quando toma conhecimento do andamento das investigações e cobra rapidez na conclusão dos inquéritos. Uma das estratégias do governo é de se antecipar às conclusões das CPIs, demonstrando que é o maior interessado em apurar todos os fatos.