Título: CIENTISTA REVELA QUE BRASIL ESTEVE PERTO DE CONSTRUIR BOMBA NUCLEAR
Autor: Chico Otávio
Fonte: O Globo, 29/08/2005, O País, p. 8

Ex-presidente da CNEN, José Luiz Santana conta como desativou projeto

O cientista nuclear José Luiz Santana, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), disse ontem que o Brasil esteve perto de produzir uma bomba nuclear no início dos anos 90, mesmo depois que o ex-presidente José Sarney (1985-90) mandou desativar o buraco de testes na Serra do Cachimbo (PA). Ele revelou que peças chegaram a ser fabricadas e um dos estoques de urânio enriquecido disponíveis para o artefato estava dentro de um contêiner no campus da USP.

- Assumi em abril de 1990, no início do governo Collor, mas só em agosto a CNEN conseguiu submeter o contêiner ao seu controle -- declarou.

A desmontagem do processo de construção da bomba atômica brasileira, segundo o cientista, levou sete meses. Mais de 50 equipes estavam mobilizadas para desenvolvê-la. Além do urânio, Santana disse que suas equipes também encontraram um disparador e partes de uma esfera que formariam o artefato.

- É provável que parte dos técnicos mobilizados nem soubesse que estava fazendo uma bomba.

Em entrevista ao "Fantástico", exibida na noite de ontem, Santana contou que teve acesso a um relatório ultra-secreto que detalhava a construção da bomba. Segundo ele, a potência do artefato seria equivalente à das bombas lançadas no Japão em 1945.

No programa, o ex-presidente da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leoni Ramos (governo Collor), também revelou ter interceptado uma Kombi que deixava as instalações do antigo Serviço Nacional de Informações, no início de sua gestão, carregada de documentos. Entre eles, havia papéis referentes ao programa nuclear.

Santana ordenou rastreamento nas unidades

Santana disse que, ao assumir, encarregou a química nuclear Zelinda Gonçalves, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, de percorrer as 44 unidades vinculadas à comissão, à procura de coisas que pudessem ter dualidade (material para fins pacíficos e bélicos).

O rastreamento, que mobilizou outros dez técnicos da CNEN, levou à descoberta do contêiner numa área ocupada pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) na USP. Santana afirma que o urânio enriquecido chegou ao Brasil por conta de um acordo bilateral com um país cujo nome recusou-se a fornecer.

O ex-presidente disse que sua estratégia, para desativar o programa, foi transferir equipes para outros setores e, no caso de instalações militares, redirecionar recursos. Santana disse que a última instalação submetida ao controle da CNEN foi Aramar, gerida pela Marinha. Ele contou que, durante a desativação, sofreu três atentados.

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FH: Clinton queria ação na Colômbia

Americanos cobraram presença militar do Brasil no país vizinho

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o governo americano tentou convencê-lo a ordenar uma ação militar na Colômbia. No encerramento da série "Dossiê Brasília - os segredos dos presidentes", exibido ontem no "Fantástico", da TV-Globo, Fernando Henrique contou que o apelo foi feito pelo então presidente Bill Clinton:

- O presidente Bill Clinton queria que o Brasil tivesse um papel mais ativo na Colômbia. Isso significa, no fundo, presença militar - disse.

O ex-presidente brasileiro disse que Clinton cobrou do governo brasileiro um pouco mais de preocupação com a Colômbia:

- Mas tínhamos posição mais retraída nessa matéria e menos intervencionista. Havia a guerrilha e a droga. Os Estados Unidos queriam comando único da repressão à droga. O Brasil não quis.

O ex-presidente também contou que gravou fitas cassetes sobre o registro de cada dia de seus oito anos de governo. Não disse, porém, quando o conteúdo será divulgado.