Título: TEMPO PERDIDO
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 29/08/2005, Economia, p. 15

Mesmo que os juros básicos comecem a baixar em setembro, os efeitos sobre a produção somente serão sentidos em 2006. Essa é a conclusão do economista Cláudio Contador, com base no método dos indicadores antecedentes, ainda muito usado nos Estados Unidos. Contador concluiu também que a queda da inflação é temporária, e pode ocorrer uma nova alta este ano.

Ainda que essa alta da inflação não venha a ser expressiva, como espera o próprio economista, o que fará o Banco Central diante de tal situação? Aumentará novamente os juros?

Contador recorreu ao método dos indicadores antecedentes - adotado pela primeira vez em 1919 - por considerá-lo mais objetivo e menos sujeito a erros do que os modelos matemáticos que vão relacionando os fatores entre si até chegar a um resultado final (na verdade, a explicação é bem mais complicada, mas não ouso entrar nessa seara).

Algumas conclusões de Contador:

1) as variações nos juros reais dos empréstimos de curto prazo, para capital de giro, levam quatro meses em média para terem efeito relevante sobre o ritmo de produção da indústria;

2) já o efeito dessas variações sobre o Produto Interno Bruto (ou seja, sobre a economia como um todo) ocorre após oito meses;

3) no caso da inflação, o impacto maior dos juros só é sentido depois de nove meses - uma verdadeira gestação;

4) a política de juros altos tem reflexos mais fortes e mais rápidos sobre o crescimento da economia do que sobre a inflação.

Conclusão (minha e creio que também dele): o Brasil precisa sair dessa armadilha o quanto antes.

Entre as opções possíveis para se melhorar o acesso ao porto de Sepetiba estaria a duplicação da antiga estrada Rio-São Paulo, que vai de Campo Grande à Via Dutra (em um local conhecido como Ponte Coberta). O custo da obra é relativamente baixo - fala-se que com R$16 milhões a estrada ficaria em boas condições - considerando-se o que é exigido para a construção de novas rodovias.

Existe também a alternativa de se adaptar a RJ-149 (que liga Volta Redonda a Mangaratiba) para a passagem de caminhões pesados. Trata-se de uma rodovia estadual, construída há quarenta anos, que recebeu poucos investimentos no decorrer desse tempo em seus 42 quilômetros. Como a estrada atravessa a Mata Atlântica, é preciso avaliar previamente se o tráfego de caminhões pesados não prejudicaria a região.

A retomada das obras de Angra 3 encruou, mas deveria estar na ordem do dia, principalmente depois que a Petrobras traçou um cenário de provável encarecimento do gás natural, a fim de conter a demanda crescente do produto. A estatal garante que atenderá prioritariamente as usinas térmicas (até porque se tornou principal acionista de várias delas), mas, ao mesmo tempo, teme que a oferta de gás não seja suficiente para suprir tudo o que o mercado demandar.

Para manter os reservatórios das hidrelétricas dentro de limites de segurança que evitem um novo racionamento (e prevendo-se que todos os investimentos programados nessa área se concretizem, aumentando a capacidade de geração de energia hidráulica ao ritmo de 4% ao ano), o Brasil terá de recorrer, de forma suplementar, à energia de origem térmica. Se as usinas a gás não puderem operar por falta de combustível ou se a energia térmica ficar cara demais, as hidrelétricas terão de permanecer muito ativas inclusive nos meses de pouca chuva, e o nível dos reservatórios cairá para percentuais abaixo dos limites desejáveis de segurança.

Angra 3 diminuiria esse risco, com a vantagem de o país não ficar dependendo do bom humor da Bolívia.

A nomeação de Márcio Fortes de Almeida como ministro das Cidades já faz diferença. O ministro foi diplomata e sempre se dedicou à área econômica (no governo Fernando Henrique foi secretário executivo do Ministério da Agricultura e até bem pouco era o principal auxiliar do ministro Furlan, na pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Daí saber que muitos problemas das cidades passam por soluções de ordem econômica. É o caso, por exemplo, de áreas da favela do Arará, em Manguinhos, que dificultam a passagem de trens para o porto do Rio. Às vezes quando é necessário trocar um dormente na linha pede-se licença ao morador, de tão próximos dos trilhos estão os barracos. Trata-se de uma situação de alto risco, tanto para os moradores como para o trem, e que se arrasta há anos.

Pois o ministro está assinando convênios com a Prefeitura do Rio e os moradores serão reassentados, em condições mais dignas. Assim o trem poderá passar por ali mais rápido, sem pôr em risco a vida de pessoas e nem ter as cargas furtadas.

O professor Antonio Carlos Álvares, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, sempre faz cálculos interessantes que mostram o impacto da capitalização dos juros sobre uma dívida ou uma aplicação. Se os índios que venderam a ilha de Manhattan para os holandeses tivessem aplicado o dinheiro a juros reais de 6% ao ano, hoje seus descendentes seriam donos da economia mundial.

A juros reais de 14% ao ano, como os atuais, a dívida pública brasileira poderia dobrar antes de 2010 (e isso só pode ser evitado por um esforço descomunal nas contas públicas, para acumular superávits primários maiores que os da Irlanda ou da Dinamarca).

Ao menos a última ata do Comitê de Política Monetária fez menção, tênue, ao custo elevado da política que tem sido adotada para se atingir as metas de inflação.