Título: Sob velha direção
Autor: Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 30/08/2005, O País, p. 3

Dirceu vence disputa com Tarso, que retira candidatura no PT e é substituído por Berzoini

Opresidente nacional do PT, Tarso Genro, não resistiu à queda-de-braço com o ex-ministro José Dirceu e anunciou ontem a retirada de sua candidatura à presidência do partido nas eleições de 18 de setembro. O ex-ministro do Trabalho Ricardo Berzoini, secretário-geral do PT e ligado a Dirceu, será o candidato do Campo Majoritário para presidir o partido. Tarso, que deixou o Ministério da Educação para presidir o PT em meio à pior crise da história do partido, queria a substituição, na chapa da qual fazia parte, de nomes identificados com o antigo núcleo dirigente ¿ Dirceu entre eles. Como não conseguiu, alegou que isso não permitiria a ¿transição com ruptura¿:

¿ Eu não era um candidato da antiga maioria porque entendia que ela estava fragmentada, muito dissolvida, e precisávamos construir uma nova maioria no partido. E que isso (uma ruptura) teria que estar simbolizado numa modificação na chapa.

Em entrevista no diretório regional do PT na capital gaúcha, Tarso anunciou que pretende iniciar um movimento político voltado para a refundação do PT e em defesa de um novo modelo de desenvolvimento. Esse novo modelo, afirmou, seria para um segundo mandato de Lula, cuja reeleição pretende pôr em discussão no fim deste ano. Tarso elogiou Berzoini, mas não se comprometeu a votar nele:

¿ Ele é um bom quadro político e um companheiro fiel, de boa índole política. Tenho simpatia pelo companheiro Berzoini.

E continuou:

¿ Para essa transição negociada eu não sou adequado. Talvez o Berzoini seja, porque ele é líder sindical ¿ disse, ressalvando que fica no cargo até o fim do segundo turno da eleição. ¿ É a obrigação que assumi e vou respeitar.

`Dirceu tem reações muito emocionais¿

Perguntado se sua desistência representava uma derrota para Dirceu, disse que não. E, indagado sobre a manifestação do ex-ministro de que preferia morrer a deixar a chapa do Campo Majoritário, disse que ele tem reações ¿muito emocionais¿.

¿ O companheiro José Dirceu tem reações muito emocionais às vezes. Mas são reações emocionais que, na verdade, balizam uma posição política. O fato de ele usar uma expressão forte desse tipo para dizer que não sairia da chapa sinaliza o tipo de relação que ele tinha com o sistema de poder. E mantém com o sistema de poder do partido. Atribuo a sua resposta a uma metáfora um pouco nervosa. Ele tem o direito de ficar na chapa. A questão que se coloca para mim é da natureza da chapa e da sinalização política que ela dá à sociedade.

Segundo ele, a permanência da antiga maioria no comando da nova direção não ameaça o futuro do PT:

¿ O PT é extremamente forte. Mesmo que haja a hegemonia anterior, no que eu não acredito, porque vai sofrer algum tipo de modificação. O PT vai se recuperar. O PT vai indicar os responsáveis por esses erros políticos.

Também pediu que a esquerda fique no partido:

¿ Se a esquerda sair, nosso partido perde a tensão política democrática fundamental para produzir boas idéias. E aí vai provavelmente voltar para uma situação de comando burocrático de maioria quantitativa.

Tarso disse que o grupo dirigente anterior deveria assumir a responsabilidade pela crise atual:

¿ O grupo dirigente anterior e seus principais quadros deveriam assumir as responsabilidades públicas pelo que aconteceu, porque até agora não se tem responsáveis pelo que aconteceu. Até agora o único responsável é o Delúbio. Estou falando de responsabilidades políticas, não penais. E até agora não se tem responsabilidades políticas apuradas.

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