Título: Berzoini: `A presença ou não de José Dirceu não é tão fundamental assim¿
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 30/08/2005, O País, p. 4

Secretário-geral do PT diz não ter divergências de fundo com governo sobre economia

SÃO PAULO. O secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), anunciou sua candidatura à presidência do PT pelo Campo Majoritário afirmando que concorda ¿em 90%¿ com Tarso Genro, que desistiu da disputa pelo Campo Majoritário. Mais moderado, Berzoini disse que não tem divergências de fundo mas sim de foco com a política econômica do governo. Quanto à proposta de reeleição de Lula, avaliou que é assunto a ser tratado só em 2006.

¿ Concordo em 90% com o que o Tarso defende no PT. Havia uma divergência: a condição de continuar ou não na candidatura a presidente em função da presença ou não de José Dirceu me parece que não é uma questão tão fundamental assim ¿ disse Berzoini.

Perguntado sobre os 10% de discordâncias que teria em relação a Tarso, afirmou que são ¿diferenças imperceptíveis¿. Ele citou o fato de não ter apoiado a proposta de Tarso de criar um instrumento formal para verificar nos diretórios estaduais do PT indícios da atuação do ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Quanto à política econômica, Berzoini defende que a execução orçamentária seja menos cautelosa.

¿ Não tenho divergência de fundo com a política econômica, mas sim de foco ¿ afirmou.

O secretário-geral explicou que, assim como o governo, acredita na necessidade de gerar superávit primário, controlar a inflação e fortalecer a política externa. Mas frisou que falta a combinação com políticas de crescimento econômico:

¿ Precisamos ter maior execução orçamentária e uma preocupação com a inflação mais focada na combinação entre inflação e crescimento econômico.

¿Entrei por contingência¿

Sobre a proposta de ruptura de Tarso, Berzoini disse que defende pontos específicos, com apoio ao Campo Majoritário:

¿ Não pode haver rupturas com o projeto político coletivo de massas que foi fundamental para a democracia e que, homogeneizado pelo Campo Majoritário, levou o Brasil a uma nova configuração política. Continuamos com a visão de ruptura em relação a certas práticas e procedimentos. O que foi feito nas finanças e na política de alianças eu não concordo. E a maioria do Campo não concorda.

A situação de Berzoini não é confortável, na avaliação de vários dirigentes. Além de entrar na disputa a 20 dias do pleito, Berzoini ¿pisa em ovos¿. Considerado mais político que Tarso, teria opiniões diferentes de muitos integrantes do Campo.

¿ Tarso e Berzoini coincidem no conteúdo e divergem na forma ¿ resumiu um dirigente.

Para Berzoini, a saída será o respaldo coletivo.

¿ Não entrei nesse processo por reivindicação, mas por contingência. Entro com entusiasmo, com determinação. Eu me sinto à vontade para disputar, inclusive reivindicando o apoio do companheiro Tarso Genro ao meu nome¿ disse Berzoini.

O secretário-geral do PT foi candidato nas eleições do PT em 2001 pela corrente PT de Massas e de Luta, mas apenas para marcar a posição do grupo, que sofreu uma cisão dentro da corrente majoritária do partido, mas tem propostas semelhantes. Foi um dos coordenadores do programa de governo de Lula e ministro por 30 meses (Previdência e Trabalho).

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