Título: Cristovam: faltam ao PT idéias para mudar o país
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 30/08/2005, O País, p. 5

Senador confirma saída do partido e diz que Lula não cumpriu compromissos de campanha mas é um bom presidente

SÃO PAULO. O senador Cristovam Buarque (PT-DF), que foi ministro da Educação no início do governo Lula, reafirmou ontem que deixará o PT porque o partido, ao longo de quase três anos de governo, não apresentou um projeto nacional nem "idéias claras" para mudar o Brasil. Antes de participar de um seminário que discutia a globalização e a democracia, em São Paulo, o senador afirmou ainda que sairá da legenda não por causa das denúncias de corrupção, mas porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cumpriu seus compromissos de campanha.

- Não estou deixando o PT por causa dos últimos eventos (denúncias de corrupção). Esses últimos eventos foram feitos por algumas pessoas e não pelo PT. O que me afasta é que o PT não apresentou um projeto nacional e nem demonstrou idéias claras de como mudar o Brasil.

Senador admite apoiar reeleição de Lula em 2006

Desde 1990 no PT, partido pelo qual exerceu o cargo de governador do Distrito Federal, o senador disse que pode tornar-se independente. Perguntado se, ainda assim, apoiaria Lula numa possível campanha à reeleição, em 2006, respondeu:

- Depende dos outros candidatos. Eu não descarto fazer campanha para o presidente Lula. Juntando tudo, ele é um bom presidente. Mas não cumpriu seus compromissos de campanha - disse ele.

Cristovam afirmou ainda que sua decisão de deixar o PT foi adiada a pedido da bancada petista no Congresso.

- Eles (os petistas) me pediram para esperar um pouco para que minha saída não se tornasse um elemento a mais na crise - disse ele, para quem o PT precisa passar por uma refundação.

- O PT vai ser refundado e voltará melhor, mas vai levar uns cinco ou dez anos. E eu não vou esperar esses dez anos - disse Cristovam, que vai procurar uma nova legenda que tenha compromisso com duas frentes: educação e distribuição de renda.

Sobre a possibilidade de ingressar no P-SOL, como vinha sendo especulado no Congresso, Cristovam descartou totalmente a participação dele no partido comandado pela senadora Heloísa Helena (AL).

- Respeito muito a senadora Heloísa Helena, mas eu tenho a proposta de sugerir medidas com os pés no chão. Gosto de ter um olho na utopia e outro na aritmética - disse.

FH: confissão de parlamentar é prova

Ex-presidente diz que PT tem mais medo dele 'do que de todo mundo'

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que confissões feitas por parlamentares envolvidos em esquemas de corrupção deveriam dispensar provas materiais. Ao responder sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que estava chateado por uma série de denúncias que, segundo ele, atinge o PT e o governo sem provas, foi enfático:

- Quando uma pessoa confessa, que prova há mais? - perguntou o ex-presidente durante seminário que discutia democratização e globalização, na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

Fernando Henrique referia-se a parlamentares que, no escândalo do mensalão, alegaram ter recebido dinheiro do publicitário Marcos Valério para fazer caixa dois de campanha.

Ainda em meio às críticas contra o governo, Fernando Henrique disse que o PT mostra ter medo dele cada vez que os petistas dizem que ele não teria autoridade para falar da crise. Para o ex-presidente, o PT fica tremendo não com suas críticas, mas com a análise política do momento:

- Autoridade eu não sou porque não tenho função pública. Mas todo cidadão brasileiro tem a obrigação de falar o que pensa. O PT tem mais medo de mim do que de todo mundo.