Título: CORREIOS RESPONDEM A AUDITORES
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 30/08/2005, O País, p. 10

Segundo estatal, documento sobre fraudes é 'evolução de auditoria interna'

Uma "evolução das atividades de rotina de auditoria interna da empresa". Foi assim que a direção dos Correios classificou o relatório divulgado domingo pelo GLOBO, no qual auditorias de quatro órgãos constataram a ocorrência de 525 irregularidades em contratos de 2003 e 2004, em parte consideradas de "alto risco" para os cofres públicos. Os contratos sob suspeita têm valor total superior a R$7 bilhões.

Para os Correios, "o relatório em questão é um instrumento de controle e fiscalização da própria empresa e que tem como objetivo buscar o constante aperfeiçoamento dos seus atos de gestão".

A ECT acrescenta que "os pontos de auditoria são classificados em risco baixo (B), risco médio (M), risco alto (A) e risco muito alto (MA), representando uma codificação específica para orientar os gestores da empresa sobre os potenciais efeitos das desconformidades indicadas ou apontadas, não podendo ser interpretados como graduação de fraudes e perdas financeiras".

Contrato do correio híbrido postal sob suspeita

Um dos contratos sob suspeita, o de implantação do correio híbrido postal, teve seu preço alterado em 400,7%, em junho de 2004. Subiu de R$861,8 milhões para R$4,3 bilhões.

Sobre o aumento, os Correios e a American Bank Note, líder do consórcio vencedor, enviaram ao GLOBO cartas nas quais reproduzem um parecer da Controladoria Geral da União, de duas semanas atrás.

Os auditores consideraram o aumento injustificável. Mas, segundo os Correios e a American Bank Note, a CGU não vê "risco de pagamentos excessivos, porque estão assegurados em cláusulas contratuais pagamentos pelos serviços prestados item a item, e não mediante ponderação do preço dos itens, conforme parâmetro utilizado para estimativa do valor contratual que é de R$4,3 bilhões".

Para os auditores da CGU, o edital dessa licitação foi manipulado, com mudanças "altamente injustificáveis" nas regras, com a introdução de exigência de capacidade tecnológica de impressão de cem milhões de páginas por mês, o que segundo eles favoreceu uma única empresa.

Na carta, a American Bank Note diz que "a empresa Xerox do Brasil, que abriu contestação judicial contra concorrência e perdeu em todas as instâncias, produz mais de cem milhões de páginas por mês. Como o consórcio vencedor também atende a esse quesito, pelo menos duas empresas o atenderiam. E como a concorrência foi internacional, várias outras empresas poderiam se qualificar. Portanto não procede a afirmativa de que somente uma empresa atende esse quesito".

Sobre a antecipação irregular de pagamentos, a empresa observa: "O contrato não foi ainda implantado, portanto não houve qualquer pagamento. O uso do verbo no passado passa ao leitor a impressão de que pagamentos já existiram, o que é falso".