Título: DOURADO DEPÕE SOB PESO DE DENÚNCIAS
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 30/08/2005, O País, p. 10

Chefe de gabinete de Palocci é acusado de chefiar esquema ilegal na eleição de 2002

BRASÍLIA. Chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Juscelino Dourado depõe hoje na CPI dos Bingos no Senado sob o peso de uma nova denúncia. Em depoimento ao Ministério Público em Ribeirão Preto, uma testemunha acusou Dourado de operar um esquema ilegal de financiamento de campanhas do PT em 2002. O esquema teria sido usado na compra de material de propaganda para candidaturas de deputados estaduais e até da presidencial na região.

O Ministério Público não quis confirmar o teor do depoimento. A testemunha, cujo nome foi mantido sob sigilo, dá detalhes de uma operação de maquiagem contábil para esconder a origem do dinheiro que pagava cartazes, santinhos e adesivos, entre outros materiais de campanha de petistas. Os pedidos eram sempre de "grande quantidade" e com valores diários de R$25 mil a R$30 mil, cada.

O Ministério da Fazenda não quis se pronunciar sobre o assunto ontem. Segundo a denúncia, os pedidos eram feitos pelo próprio Dourado para a Vilimpress Indústria e Comércio Gráficos Ltda., com sede em Ribeirão Preto. A gráfica, diz a testemunha, não emitia notas fiscais mas sim documentos "conhecidos como PF ou pedidos por fora". Segundo o depoimento, o diretor da Vilimpress, Vilibaldo Faustino Júnior, recebia na sede do PT boletos bancários emitidos no nome de Dourado, que eram descontados ou caucionados em quatro bancos da cidade.

A testemunha contou que a operação era fechada pela empresa Leão & Leão, que pagava a dívida e emitia notas fiscais. A Leão & Leão foi acusada pelo advogado Rogério Buratti de pagar propina mensal de R$50 mil à prefeitura de Ribeirão Preto para manter contratos de lixo, na segunda gestão de Palocci, em 2001 e 2002. Segundo Buratti, a empresa usou operação semelhante, emitindo notas frias de prestação de serviços genéricos.

No depoimento, a testemunha contou que os valores das notas fiscais da Leão & Leão eram "muitas vezes maiores" do que os boletos. Ela contou ter ouvido do diretor da Vilimpress que essa diferença era o patrocínio da empresa à publicidade do PT. E disse ter certeza que as notas fiscais eram para o pagamento dos "pedidos por fora" feitos por Dourado.

Dourado é suspeito de tráfico de influência

A testemunha disse ainda que as sobras de dinheiro eram usadas para comprar dólar e que o dinheiro voltava depois para o PT.

Juscelino Dourado é suspeito de ter sido usado por Buratti para tráfico de influência na Fazenda. O chefe de gabinete recebeu Buratti pelo menos nove vezes no Ministério desde o início do governo Lula. Dourado e Buratti também se falaram diversas vezes por telefone no período, segundo dados da quebra do sigilo telefônico do advogado em poder da CPI.

Legenda da foto: JUSCELINO DOURADO: nome de testemunha foi mantido em sigilo