Título: Partidos feridos buscam fusão
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Panorama Político, p. 2

É antigo o diagnóstico sobre os efeitos nefastos de um quadro partidário disperso e inconsistente como o nosso. Seu enxugamento pode começar agora, por fora da crise ética e política que atingiu boa parte deles. Nos bastidores, o projeto mais avançado trata da fusão do PTB com o PL e o PP, desde que afastada, de cada um deles, a banda podre envolvida no escândalo.

Quem primeiro levantou a proposta, que já tem adeptos nos três partidos, foi o senador petebista Fernando Bezerra, líder do governo no Congresso. Ele está certo de que os integrantes de um novo partido produzido pela fusão das três siglas - ainda que isso ocorra depois do prazo de refiliação partidária, que expira em 30 de setembro - não teriam afetado o direito de se candidatar em 2006. Consultou especialistas em direito eleitoral. Ouvimos o ministro aposentado do TSE Fernando Neves, que tem a mesma interpretação. Diz ele ainda que o tempo de televisão deste eventual novo partido seria calculado pela soma do tempo original de cada sigla. Isso daria ao partido resultante da fusão PTB-PL-PP invejáveis 12 minutos. Tal partido teria uma bancada de aproximadamente 90 deputados, equiparando-se ao PT e superando o PMDB.

Mas para avançar com o projeto, Bezerra e outros articuladores esperam pela remoção de obstáculos representados por algumas figuras. No PTB, Roberto Jefferson; no PL, Valdemar Costa Neto; no PP, a turma de José Janene.

Um dos que se entusiasmou com a idéia foi o vice-presidente José Alencar, embora ontem mesmo tenha negado a intenção de deixar o PL para ingressar em outro partido. Respondeu ao que lhe foi perguntado, e não sobre a fusão que vem sendo discutida com discrição. Se pensa mesmo em disputar a Presidência, especialmente se Lula não for candidato, um novo grande partido de centro seria o abrigo certo. Delfim Netto, no PP, é outro que gosta da idéia.

Na esquerda também se discutem fusões. PSB e PCdoB começaram a tratar disso mas agora já se fala também num projeto maior, que seria a fusão dos dois com um PT renovado, depois de punidos os responsáveis pela lambança financeira e do inevitável êxodo da ultra-esquerda.

Se a crise produzir, além das reformas legais e instituições necessárias, algum enxugamento do quadro partidário, terá servido para alguma coisa. Pela mera aplicação da cláusula de barreira, levaremos alguns anos para ver cair o elevado número de partidos - 19 com representação no Congresso e 30 com registro definitivo - que leva à dispersão do voto para o Congresso, privando qualquer presidente da imprescindível maioria para governar. Na falta dela, recorre a alianças heterogêneas, como as que fez o PT, e elas levam sempre a outros desvãos.