Título: Perto e longe
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 01/09/2005, O Globo, p. 2

A pronta reação da sociedade ao discurso do deputado Severino Cavalcanti fala do que as pessoas mais desejam: que o Congresso seja investigado e que sejam punidos os que receberam qualquer forma de suborno político. As cassações vão sair, são inexoráveis, mas as investigações cada vez mais se afastam do Congresso, deslocando-se para Ribeirão Preto, Londrina e outras plagas.

As cassações vão sair, apesar do discurso indulgente de Severino e das manobras protelatórias. O relatório que as CPIs dos Correios e do Mensalão apresentam hoje deve ter pelo menos 18 nomes. Para o senador Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios, este é o piso. Qualquer lista menor causaria um ciclone de indignações. Mas sabemos todos que esta lista estará longe de incluir todos os que, nos últimos tempos, sem qualquer conexão com Delúbio e Marcos Valério, desonraram o eleitor e o mandato popular. Não faz muito foi arquivada uma representação contra deputados da CPI dos Bingos que estariam achacando distribuidoras para não serem convocadas. Fala-se que houve festa na CPI da Pirataria e da Livre Concorrência, para não falar dos rumores envolvendo comissões permanentes e não discutir o financiamento das campanhas em geral. Diante de um Roberto Jefferson que tinha nas mãos uma pasta com a prestação de contas de cada um, os membros da CPI dos Correios se calaram.

As cassações de agora virão porque são inevitáveis. Uma boa parte do Congresso quer mesmo fazer uma faxina interna. Uma outra parte gostaria de evitar isso mas sabe que contrariar a opinião pública terá um custo eleitoral elevado em 2006. O resto, o que ficou sob o tapete, será esquecido, ficará fora da narrativa oficial sobre esta crise.

As investigações vão se afastando do Congresso por duas razões. Primeiro, porque o Congresso aceita cortar na própria carne apenas o suficiente para saciar as indignações. Se for se investigar a fundo, teria que cortar muito mais cabeças.

O foco se perde também porque as CPIs até agora não conseguiram provar suas hipóteses sobre a origem dos recursos que abasteceram as contas do valerioduto, de onde saíram recursos para o PT, partidos aliados e esta penca de deputados que deve ser cassada. Alguns deles podem ter distribuído mesada a seus colegas de partido. Outros, sendo dirigentes partidários, podem mesmo ter quitado dívidas de campanha com a ajuda recebida do ex-tesoureiro do PT. O deputado Paulo Rocha, presidente do PT do Pará, acha que não será cassado porque provará que pagou contas do partido. Ilude-se. Não se quer saber o que cada um fez, se o dinheiro veio de Valério. Mas a origem dos recursos, a CPI parece longe ainda de ter identificado.

Tucanos fazendo o jogo

Com seus últimos movimentos, procurando os principais líderes do PSDB, o governador de Minas, Aécio Neves, acredita ter conseguido dois objetivos: conter os conflitos precoces sobre a escolha do candidato a presidente e restabelecer um calendário por todos aceitos, pelo qual não se escolherá candidato este ano.

- Tenho dito que nosso diferencial deve ser a unidade e o projeto. Todos compartilham esta idéia e adotaram o mesmo horizonte político - diz ele.

O calendário foi quebrado pela ascensão do prefeito José Serra nas pesquisas como o único que ganharia de Lula, até mesmo no primeiro turno. De suas conversas com Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Goldman, Alckmin, Fernando Henrique e por fim Serra, Aécio trouxe também o compromisso de que, para evitar vetos ao futuro candidato - a ser escolhido entre Serra, FH, Alckmin e ele mesmo - ninguém poderá este ano vetar qualquer nome para presidente do partido. O mais natural é o do senador Tasso Jereissati, que enfrentaria restrições de Serra e seus seguidores, pelo fato de preferir Alckmin como candidato.

Depois desta rodada, o que se entende é o seguinte: se Serra virar o ano como único tucano capaz de bater Lula, ninguém lhe tira a candidatura. Mas se não for mais o único, a conversa será outra.

Enquanto isso, o PFL manda um recado aos tucanos do penacho. O senador Marco Maciel oferece um almoço hoje ao governador Jarbas Vasconcelos (PE) e ao presidente do PMDB, Michel Temer, com a presença de estrelas dos dois partidos. Aviso de que podem se aliar deixando os tucanos experimentar a tal chapa puro sangue que alguns defendem.

Procurando lá fora

Na profusão de hipóteses sobre a origem do dinheiro que abasteceu as contas de Marcos Valério, o deputado ACM Neto tem a sua: a de que o PT tenha uma dinheirama no exterior, doada por empresas que receberam favores do governo. Os empréstimos seriam apenas um biombo. Por isso ele tentará aprovar hoje, na CPI dos Correios, seu requerimento pedindo a identificação de todos os ingressos de recursos externos a favor do Banco Rural, superiores a US$500 mil, de 2003 para cá. Pode ser, mas não será fácil produzir a prova.

FILIA-SE HOJE ao PFL o ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes, que já foi do PP.

NO SENADO, o chanceler Celso Amorim disse que é um erro julgar a política externa pela derrota de candidatos brasileiros à direção de organismos multilaterais. Está aí o desempenho das exportações mostrando que a busca de novos parceiros deu resultados. Aproveitou para pedir reforço ao orçamento do Itamaraty.

O ORÇAMENTO de 2006 chegou ao Congresso ontem, confirmando a prioridade ao Bolsa Família no último ano do governo Lula. A dotação de R$9,5 bilhões garantirá, diz o ministro Patrus Ananias, o atendimento das 11,6 milhões de família que viveriam em situação de extrema pobreza, com R$50 mensais/per capita.