Título: SEVERINO DEFENDE PENA BRANDA, TENTA SE EXPLICAR E CAUSA TUMULTO
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 31/08/2005, O País, p. 3

Gabeira: 'Sua atuação é indigna para o cargo de presidente da Câmara'

BRASÍLIA. As suspeitas de que a presidência da Câmara esteja no comando de uma operação abafa para impedir a cassação de parlamentares envolvidos no mensalão deixaram ontem em situação delicada o presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). Em declarações à "Folha de S. Paulo", ele afirmou não acreditar na existência do mensalão e defendeu pena branda para o crime de caixa dois. À tarde, fez um pronunciamento para tentar se explicar, mas virou alvo de ataques duríssimos da oposição.

- Enganam-se aqueles que pensam que deixarei levar inocentes ao cadafalso, apenas para, ao desvario, ouvir soar as trombetas. Esta presidência zelará para que inocente algum seja castigado. Mas não hesitará em reunir todas as suas forças para punir exemplarmente aqueles que porventura tenham conspurcado seu mandato. Por isso não há o que se falar em operação abafa ou terminar em pizza - discursou Severino.

Líder do governo, Chinaglia saiu em defesa de Severino

O primeiro a subir à tribuna para contestá-lo foi o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA). O ataque mais duro partiu de Fernando Gabeira (PV-RJ), que acusou Severino de usar o cargo para interferir em favor de empresas e reclamou de seu posicionamento sobre as investigações:

- Sua atuação é indigna para o cargo de presidente da Câmara. Vossa Excelência está em contradição com o Brasil. Sua presidência é um desastre para o Brasil! Ou fica calado ou iniciaremos um movimento para derrubá-lo do cargo ! - disse Gabeira.

Possesso, Severino respondeu .

- Recolha-se à sua insignificância! Não aceito as suas palavras!

Na saída, ao ser indagado se representaria no Conselho de Ética contra Gabeira, Severino provocou:

- Não sei, o que sei é que ele quer se afirmar como homem, mas não sei se conseguiu se afirmar ainda.

Aleluia classificou as declarações do presidente da Câmara como absurdas e criticou a alusão a Hugo Borghi, que no governo Getúlio Vargas roubou e se reelegeu.

- Vossa Excelência pode ter o desejo pessoal de transformar uma punição dura em pena branda. Mas suas declarações foram muito infelizes. Ao dar o exemplo absurdo de Borghi fomos todos execrados, postos na vala comum. Quando fala que não tem mensalão, passa a idéia de que todos nós não queremos investigar, que queremos abrandar e que não existe irregularidade - protestou Aleluia.

Severino se defendeu dizendo que declarara não haver mensalão acreditando no relatório de Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do processo de Roberto Jefferson (PTB-RJ). Carneiro protestou, pois a entrevista de Severino foi dada às 16h da segunda-feira, e seu voto, lacrado, foi divulgado por volta das 19h30m.

- Como acredito muito em Vossa Excelência e me disseram que seu voto seria esse, disse que não tinha mensalão - respondeu Severino.

Os ataques provocaram a reação do baixo clero e dos governistas, que saíram em socorro de Severino, aplaudido por petistas como Devanir Ribeiro (SP) e José Mentor (SP). Até o sumido líder do PP, José Janene (PR), foi ao plenário.

- Quem é o deputado Gabeira para falar do presidente Severino? Não podemos admitir isso, ainda mais vindo daquele que defende a legalização dessa erva maldita! - protestou o deputado Wladmir Costa (PMDB-PA).

O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), também o apoiou:

- Vossa Excelência não poderia conjugar outro verbo que não seja apurar com rigor.