Título: Lula diz que a crise é 'extremamente grave'
Autor: Luiza Damé e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 31/08/2005, O País, p. 5

CRISE POLÍTICA: EM UBERLÂNDIA, PRESIDENTE VOLTA A SE COMPARAR A JK E REPETE QUE, COMO ELE, PRECISA TER PACIÊNCIA

'Juscelino várias vezes apareceu nos jornais como ladrão, tentaram dar golpe de Estado, tentaram matá-lo inclusive'

UBERLÂNDIA (MG) e BRASÍLIA. Num discurso inflamado para cerca de duas mil pessoas, a maioria simpatizante do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a crise política é "extremamente grave", mas condenou a divulgação de denúncias sem provas e a espetacularização das investigações. Numa crítica à imprensa, Lula disse estar cansado de ler denúncias "achincalhando o nome das pessoas" sem provas. Ele também voltou a se comparar ao ex-presidente Juscelino Kubtischek. Na quinta-feira, Lula disse que não seria como alguns ex-presidentes, mas que teria paciência como Juscelino.

- Os mais velhos se lembram o que os que hoje me atacam faziam com o Juscelino. Juscelino várias vezes apareceu nas primeiras páginas dos jornais deste país como ladrão, tentaram cassá-lo duas vezes, tentaram dar golpe de Estado, tentaram matá-lo inclusive e Juscelino nunca perdeu a paciência - disse Lula ontem, na inauguração da ampliação do Aeroporto de Uberlândia. - Passados alguns anos ele perdeu as eleições (na verdade, seu candidato, marechal Lott), ganhou o Jânio Quadros, que pouco tempo depois renunciou, denunciando forças ocultas. Depois veio o João Goulart, que foi cassado. E eu não falei ainda do Getúlio, que por acusações não provadas foi levado à morte.

Vaias para Aécio, gritos de corrupto para Lula

E voltou a falar das investigações que estão sendo feitas:

- Quero dizer que a crise é extremamente grave. Em horas de crise é preciso ter muita paciência para não tomar decisão precipitada, não se deixar levar pelo estado emocional, mas sim pela razão.

Durante o discurso de Lula, do meio da platéia saiam gritos de corrupto, abafados por petistas. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão (PP), foram vaiados. Aécio falou quatro minutos. Lula, ao começar seu discurso, cobrou respeito às autoridades.

Lula chegou a Brasília à noite e inaugurou no aeroporto um busto em homenagem a JK.